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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dia de chuva


        
           Nos dias chuvosos fico sempre mais pensativa. Gosto de ficar na janela vendo as gotas de chuva caírem no chão, lavando as calçadas, lavando que passa desavisado nas ruas, lavando meus pensamentos que não me deixam desligar um segundo sequer.
Quando chove penso que o céu está se livrando de tudo aquilo que mandamos a ele todos os dias: as preces, os desejos de que as coisas melhorem, os sonhos que queremos ver realizados, os agouros que sofremos e jogamos nos outros.
Se a gente não agüenta, por que o céu agüentaria? Se nós choramos, por que o céu não choraria? A chuva, na verdade não passa das lágrimas do céu escorrendo pelo infinito que ele circunda...
E por ser lágrima, vem de um choro natural, de desabafo, e nos ajuda desabafar também.
Às vezes durmo com o barulhinho da chuva. Durmo envolta nos pensamentos que vã se lavando, se tornando mais límpidos e leves à medida que a chuva cai.
Às vezes choro com a chuva. Aproveito a carona e deixo as minhas lágrimas caírem, que é pra ficar com a alma lavada.
Às vezes tomo banho de chuva: e como é bom ter a água escorrendo pelos cabelos, molhando o rosto, os olhos, os lábios... molha as palavras que tive que engolir a seco em alguns momentos, molham os olhos e ajudam a lava-los para que eu possa ver o que realmente está por trás de determinadas situações, lava os cabelos que quando estão ao vento desejam ser acariciados.
Gosto da chuva. O cinza dos dias que ela cai nos dá a exata medida de nostalgia necessária para entendermos que ninguém é feliz a todo o tempo, mas que ninguém é triste a vida toda.
Gosto das gotas de chuva escorrendo pelo vidro da janela. Elas me fazem perceber que acreditei a vida inteira que tudo passa, mas na verdade isso é uma falácia. Assim como as gotas d’água que escorrem pela janela e que só completam um ciclo, a vida é assim: as coisas não passam. Só ficam guardadas no sótão da nossa alma, empoeirando-se, esperando alguém entrar lá e revira-las e traze-las à tona. Tudo está envolvido num grande ciclo.
Em dias de chuva penso muito. Em dias de chuva sou menos alegre, mas não muito triste. Em dias de chuva fico na linha tênue de sentimentos: nem lá, nem cá, no meio. Um pouco mais perdida, um pouco mais sentimental, um pouco mais sem rumo...


1 Comentários:

Dy Eiterer disse...

e às vezes a gente começa a escrever pensando em uma coisa e encontra resposta para outra, que não havíamos pensado...

e quantas palavras me foram ditas nos últimos tempos... e quantas delas eram de açúcar... doces, encantadoras, mas desfizeram-se com a chuva e a consciência que me veio de hoje...

É assim que as coisas funcionam: num dia nublado, as coisas se aclaram...

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