Nos dias chuvosos fico
sempre mais pensativa. Gosto de ficar na janela vendo as gotas de chuva caírem
no chão, lavando as calçadas, lavando que passa desavisado nas ruas, lavando
meus pensamentos que não me deixam desligar um segundo sequer.
Quando chove penso que o céu
está se livrando de tudo aquilo que mandamos a ele todos os dias: as preces, os
desejos de que as coisas melhorem, os sonhos que queremos ver realizados, os
agouros que sofremos e jogamos nos outros.
Se a gente não agüenta, por
que o céu agüentaria? Se nós choramos, por que o céu não choraria? A chuva, na
verdade não passa das lágrimas do céu escorrendo pelo infinito que ele
circunda...
E por ser lágrima, vem de um
choro natural, de desabafo, e nos ajuda desabafar também.
Às vezes durmo com o
barulhinho da chuva. Durmo envolta nos pensamentos que vã se lavando, se
tornando mais límpidos e leves à medida que a chuva cai.
Às vezes choro com a chuva.
Aproveito a carona e deixo as minhas lágrimas caírem, que é pra ficar com a
alma lavada.
Às vezes tomo banho de
chuva: e como é bom ter a água escorrendo pelos cabelos, molhando o rosto, os
olhos, os lábios... molha as palavras que tive que engolir a seco em alguns
momentos, molham os olhos e ajudam a lava-los para que eu possa ver o que
realmente está por trás de determinadas situações, lava os cabelos que quando
estão ao vento desejam ser acariciados.
Gosto da chuva. O cinza dos
dias que ela cai nos dá a exata medida de nostalgia necessária para entendermos
que ninguém é feliz a todo o tempo, mas que ninguém é triste a vida toda.
Gosto das gotas de chuva
escorrendo pelo vidro da janela. Elas me fazem perceber que acreditei a vida
inteira que tudo passa, mas na verdade isso é uma falácia. Assim como as gotas
d’água que escorrem pela janela e que só completam um ciclo, a vida é assim: as
coisas não passam. Só ficam guardadas no sótão da nossa alma, empoeirando-se,
esperando alguém entrar lá e revira-las e traze-las à tona. Tudo está envolvido
num grande ciclo.
Em dias de chuva penso
muito. Em dias de chuva sou menos alegre, mas não muito triste. Em dias de
chuva fico na linha tênue de sentimentos: nem lá, nem cá, no meio. Um pouco
mais perdida, um pouco mais sentimental, um pouco mais sem rumo...
1 Comentários:
e às vezes a gente começa a escrever pensando em uma coisa e encontra resposta para outra, que não havíamos pensado...
e quantas palavras me foram ditas nos últimos tempos... e quantas delas eram de açúcar... doces, encantadoras, mas desfizeram-se com a chuva e a consciência que me veio de hoje...
É assim que as coisas funcionam: num dia nublado, as coisas se aclaram...
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