quinta-feira, 29 de agosto de 2019
Flor
Pousam em mim, os beijos, como borboletas:
Leves, coloridos, em buscas mais profundas.
Tocam-me os lábios e bebem minha sorte do dia:
Às vezes, auspícios, noutras, hospícios.
É que gosto de loucuras.
É que quebro certas regras.
É que meus versos são mais doces que os beijos,
Mais alados que as borboletas
E chegam onde quer que estejam
Seus ouvidos atentos.
Pousam-me, assim, outros versos
Muito além dos que invento.
Alguns me cabem
Parecem feitos pra mim.
Outros tantos me comovem,
Moram em mim com suas sensações matinais
E enchem-me de sorrisos e inspirações
De vermelhos em brancos lençóis
Ou de cores flutuantes no céu.
O fato é que me posam beijos e versos
E, às vezes, sinto-me flor.
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
Fio
O fio condutor
O fio da meada
O fio da navalha
O fio de sua língua
(A que escreve e a que fala)
Passando pelo meu corpo
Tirando a dúvida
Tirando o medo
Tirando o sangue
Tirando o desejo
(Os ocultos e os revelados)
E tudo isso banhado em suor e palavras
Explorando o léxico
Buscando nexo
Desvendando complexos
Um quase sexo
(Dos pensamentos e versos)
Eis que surge a salvação
O extravasar da inspiração
O escrever a emoção
O verbo com precisão
(Nasce o poema e o poeta)
E a carne sangra
O olho chora
A alma vibra
A vaidade evapora
(O desespero de quem escreve
É a calmaria de quem lê)
fio condutor
O fio da meada
O fio da navalha
O fio de sua língua
(A que escreve e a que fala)
Passando pelo meu corpo
Tirando a dúvida
Tirando o medo
Tirando o sangue
Tirando o desejo
(Os ocultos e os revelados)
E tudo isso banhado em suor e palavras
Explorando o léxico
Buscando nexo
Desvendando complexos
Um quase sexo
(Dos pensamentos e versos)
Eis que surge a salvação
O extravasar da inspiração
O escrever a emoção
O verbo com precisão
(Nasce o poema e o poeta)
E a carne sangra
O olho chora
A alma vibra
A vaidade evapora
(O desespero de quem escreve
É a calmaria de quem lê)
terça-feira, 27 de agosto de 2019
Grande encontro
Tocou-me o amor,
Desfiz-me em sinais.
Eis meus olhos, portas da alma, perdidos,
Sonhando acordados.
Ávidos na busca do ente amado,
Devassando meus segredos,
Devastando meu juízo.
Percorro cada canto do mundo,
E só encontro sossego
À sombra de sua presença.
É com o peito acelerado que percebo a vida,
Que bebo as cores do dia,
Que insisto em viver o amanhã:
Quiçá, será nele o grande encontro de nossos lábios.
segunda-feira, 26 de agosto de 2019
Equinócio
Inebriada no meio da noite,
Com pensamentos noturnos
Tão impublicáveis quanto um Marquês de Sade,
Tão ardente quanto a fogueira de Ostara,
À espera da semeadura,
No exato instante da equidade do tempo,
Quando dia e noite não disputam,
Se entregam.
Inebriada em seus planos,
Buscando palavras,
Versando desejos,
Adormece donzela,
Mas tem sonhos de colheita,
De fruto maduro,
Mordida e sabor.
É o portal sagrado que atravessa e duvida:
Sonha seus desejos ou inventa histórias?
Aguarda a fogueira
E se queima quantas vezes for preciso
O que não pode é calar sua vontade
Capitula aos quereres
sábado, 24 de agosto de 2019
Xícara
Seja meu café nessa manhã
Assim, com todos os vapores,
Assim, com seus aromas e sabores,
Com esse castanho todo
Que quase ferve o corpo
Que aquece pensamentos
Sem adoçar
Trazendo doses de realidade
Mas com a energia vital
Que me percorre
Que me habita
Que me inspira
Que me acalma
Que toca minha boca
Invade minhas narinas
E dá a certeza de um bom dia
Forte, intenso, encorpado
Necessário como um verso ao poeta
Preenchendo-me, xícara, por completo.
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
Vastidão
E no vasto mundo da Primavera, voam as borboletas.
Não sabem que são limitadas pelo azul,
Só existem e colorem o ar.
Só lá fora, onde ainda restam flores.
Aqui, do lado de dentro,
Sobre nossas cabeças o céu parecia desabar
Tudo era cinza e concreto
Água podre, fumaça e vento.
Pouca esperança sob escombros
E a força bruta se esvaindo.
Onde estava sua poesia,
A luz no fim do túnel,
A salvação da agonia?
Sou a borboleta sem asas
Ou de asas fechadas
(Quem é que sabe?)
Cansada, acuada
Respirando por teimosia
Resistindo por vocação
Mas, à beira do abismo
Sem poder pousar em nenhuma mão
E temendo o fim do inverno
Temendo não ver chegar seu fim
Temendo não voar no vasto mundo da Primavera
Em que os céus, de novo, se abrirão para mim.
Voam, agora, mais as folhas que o tempo,
Conto, agora, o fim das noites,
Mas desejo o entardecer das montanhas antigas.
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
Espartilho
As primeiras horas alaranjadas da noite
Tocam meu corpo e o seduzem
Encantam-me com seu brilho incandescente
Que se reflete no castanho de meus olhos
Essa é a hora do mágico cansaço,
Dos abandonos vadios,
Em que eu me pediria entre braços,
Em que eu me desfaria do espartilho
E seria a ressignificação da liberdade,
Presa só por minhas vontades
De incendiar com o alaranjado das horas
terça-feira, 20 de agosto de 2019
Partida e chegada
Dias cinzas,
Janelas sem paisagem,
Meu corpo sem o seu,
Bebendo saudades.
Agora a casa é triste,
E os lençóis nem sabem que você se foi,
E as paredes nem sabem que sua voz calou.
Meu caderno ainda tem versos com seu cheiro
Minhas promessas ainda são sobre seu futuro
E sobre amor.
Só sobre amor.
E sobre nuvens e poesia
Sobre sua chegada e partida
Sobre as velocidades das horas
Sobre os voos noturnos da minha alma
Que lhe encontra nos sonhos
Esperando por você no portão,
Então, chegue logo,
Quero lhe olhar,
Amar.
Quero muito mais que posso contar
E só resisto às suas partidas
Porque elas anunciam suas chegadas.
segunda-feira, 19 de agosto de 2019
Por inteiro
Como se me escorresse pelos dedos,
Como se se movesse no deserto,
Como se fosse sempre distante,
Como se meus olhos nunca o vissem,
Eu o quero.
Eu o guardo entre as mãos.
Eu o tenho no peito
Por inteiro.
Variações de cores profundas
Fotografias alegres de minha memória
Ainda que inventada,
Ainda que só minha.
Eu o quero
E aqui, dentro de mim, eu o tenho.
domingo, 18 de agosto de 2019
Desalinhavo
Até então, a poesia não tinha forma.E
Eram versos em franca liberdade.
Às vezes, leves, às vezes, pesados.
Livres.
Soltos.
Assustadoramente clarividentes:
Tradutores de muitos de meus sentimentos.
Miseravelmente dolorosos,
Revirando desamores.
Ocos, ecos, ressonantes.
Cada verso em sua unicidade.
Poesia de remendos, mosaicos, ajeitos.
Mas, outro dia, ela, a poesia, chegou.
Partiu-me com o efeito de um raio
Era viva, pulsante,
De carne, osso e verbo: ação.
Deu-me um bom dia...
E nunca mais houve sossego,
Nunca mais deixei de procura-la.
Em cada par de olhos castanhos,
Em cada sorriso bobo.
Aquelas poesia não sabe,
Mas desassossegou-se a alma
E se não me vem ao amanhecer,
Sigo em sua espera até que beijo a lua
E adormeço sonhos nublados,
Pelas metades, desalinhavados.
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
Explosões
Todo movimento é explosão
Impulso maior
(Do corpo e das ideias)
Ação desmedida
O voo intrépido
Resultado das ebulições internas
Essas que me consomem
Que me fazem ferver
Que me levam por sua conta
Para meus desejos mais profundos
Que a sensatez manda esconder
Cá estou eu
Em efervescências
Em calores
Em vapores
Em explosões