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segunda-feira, 1 de maio de 2017

Jardim



Cuidava da grama como se fosse uma tecelã
E cada uma das pequenas folhas, fios de uma alcatifa.
Preparava seu pequeno universo com carinhos angelicais.
Tinha sonhos de dançar descalça sobre ela.
Tinha sonhos de esperas e chegadas
Cujos nortes ainda desconhecia.
Todas as vezes que o sol lhe acordava,
Sussurrava o nome tão sagrado quanto o vento,
Mas não sabia sequer qual era, onde estava, quando chegaria.
Ainda assim, cantava canções ao amanhecer
Suaves despertares para os ouvidos prontos a recebê-las.
Ainda assim, cantava canções de anoitecer,
Ninando as horas cansadas da jornada.
Como coruja, noturna, tecia saberes e histórias.
Era espera e olhares pela janela.
Era espera e casa de jardim.
Era semeadura e desabrochar.
Movimentos de outono e primavera,
Regando suas mudas e silêncios com preces e prantos,
Podando suas arestas e dores com os ciclos da lua.
Era guardiã de ventos e temperamentos
Era guardiã das noites e suas cantigas que nunca são vãs
Era aquela que dorme e dá aconchego.
Era de uma beleza natural, buquê floral,
Que só tem viço em meio ao verde,
Que não combina com jarros,
Que não se limita nas paredes da casa

Porque sabe que seu lugar é o jardim.

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