Visitas da Dy

sábado, 12 de setembro de 2015

Lu(cide)z





Tantas sou, que diante do espelho é preciso escolher quem serei ao longo do dia.
Não se tratam de máscaras, mas de marcas que fazem parte de quem sou agora e de tudo o que sinto.
(Antes de qualquer coisa, trata-se das cicatrizes que vou expor por aí.)
Por vezes, sinto tanto e em profundidades tamanhas que não me reconheço, não caibo nem no reflexo nem na ideia que faço de mim mesma.
Há um quê de loucura? Eu prefiro chamar de excesso de lucidez que tenho para comigo e para o mundo que vejo. E ela me extravia de quem fui, afastando-me do que foi frio ou morno, levando-me a passos largos e firmes para tudo o que me faz febril.
Gosto quando as faces estão rubras. Gosto da sensação do sangue pulsando e correndo pelas veias. Gosto de ter os lábios quentes com a empolgação do desconhecido.
Não nego que muitas vezes a boca fica seca. O ar parece queimar. As palavras teimam em derreter na ponta da língua e voltam para dentro da boca. As ideias não saem. O sentimento não se dissipa no ar, não se mostra. As pernas desejam avançar, mas o querer ainda é pouco e elas estacam. É, então, como uma força oculta que me guia e me derrama sensações que desconheço e que recebo resiliente.
Diante do espelho, enquanto essas sensações, resultados de experimentações, desfilam diante de meus olhos e me impõem a escolha de um “eu”, consigo refletir e questiono-me se, de fato, sinto isso tudo ou se são delírios.
A voz que me responde é interior e clara: o poeta sente mesmo quando não o sabe e traduz o intangível em palavras. Toma a sua caneta. Rabisca o seu papel. E qualquer que seja o “eu” que escolher, escreva. Porque só se é e só se sente verdadeiramente quando o abandono do lugar comum acontece. Escreve. E sai, assim, do lugar cativo. Alça voos que seus olhos sonham e será plena de uma beleza imensuravelmente contagiante. Será poeta. Será verso.

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