08/09/13
O casal de jovens embalava-se em amores primaveris. Coisa da
idade, de quem descobre o primeiro amor e pinta flores nos galhos secos da
vida. Descobriram outros olhares para a guerra que assolava sua terra.
Com um disparo rouco no meio da noite, um copo cheio caído no
tapete da sala, como as espumas que ficam na beira da praia com saudades do mar
eles se separaram. Entre homens que não amam, o amor nunca é percebido como
antídoto.
A mão caprichosa do destino os colocou em opostos. Calaram-se as
bocas, secaram-se os beijos.
Restaram àqueles corações a saída dos que se perdem em sons
mudos: os versos, os riscos nos muros das ruas que percorriam e que sonhavam
reencontrar-se.
As promessas loucas de suas vontades saltavam da tinta e realizavam-se nas madrugadas, colorindo, rimando
e mostrando que o amor não dormia, desfilando diante dos olhos ao raiar do dia.
Eram palavras mudas, quase letras mortas, que traziam à tona
seus segredos, emergindo à luz da aurora em tons de confissão: todas aquelas
palavras já eram ditas pelos olhares, eram reveladas pela dedicação, eram
arrastadas pelo tempo.
Oxalá, seja verdade que o amor resiste a tudo e ao tempo...
Só essa verdade faria das horas desfolhadas em prosa, da vontade de parar os ponteiros do relógio, de
calar o cuco, de conter a areia, um esforço sadio, longe das agonias de Tântalo
ou de Sísifo.
Pelos muros, marcaram-se as letras. Pelos versos, escorreram-se
os sentimentos. Pelos desejos, a eternidade. Pela presença desejada, alegria
quase incandescente. Para a vida, planos. Pelo real, utopia e pelos muros, nada
mais que rabiscos.
Ansiosos pelo fim do inverso de suas vidas, contavam os dias e
todas as bocas que conheceram, jamais tiveram o mesmo gosto. Nenhuma noite
embalou sonhos com outros personagens. E nenhum poema foi suficiente para
sufocar as brasas que restaram daquele primeiro amor.
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