Como quem nunca se acostuma com o que vê, ela
não se acostumava em ver as pessoas dizerem que sentiam saudades de quem estava
longe. Essa era uma lógica que não fazia o menor sentido para ela.
E também não achava a saudade triste, como
alguns diziam. Para ela, a saudade era coisa boa. Na verdade era uma “dorzinha
gostosa” que apertava o peito de vez em quando.
Sobre a saudade dizia-se ser uma inconformada
e, de tanto ouvir que a saudade era tristeza, um dia ousou dizer aos quatro
ventos o quanto a sua saudade era diferente das dos outros:
– Nunca senti saudade de quem estivesse longe
de mim, de quem, por algum motivo, tenha simplesmente passado por minha vida.
Só senti, e sinto, saudade de quem está perto, tão perto que chega a ser dentro
de mim, dentro do meu coração. Daí a minha lógica irracional: sinto saudade de
quem já passou por mim e agora não fica mais longe, mas que mora dentro. E isso
enche a minha alma e me faz sorrir em meio às lágrimas de cristal-saudoso.
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