Visitas da Dy

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Violetas e Céus

(Foto de Saulo Otoni, gentilmente cedida.
Juiz de Fora, quase tempestade, em 05/02/2020)

Quando me chamas de calmaria e me vestes de azul,
Oscilo entre o que tens e o que desejas.
Tens a mim como uma paisagem na janela:
Linda e limitada, mas, sabes ser um engano.
E, hoje, lhe ensino a liberdade:
Mudo minhas cores, risco teus céus:
De cima a baixo cravo minhas unhas reluzentes
Marco tua carne com os vermelhos que me apetecem.
Nos céus de tua boca, deixo meu sabor.
Nos céus diante de teus olhos,
Violetamente lhe causo espanto:
Minhas tempestades encantam e desesperam
Chegam fortes e imponentes 
Como a mulher que cavalga as noites.
E se dissipam como a culpa dos penitentes
E é lá, ladeira abaixo, 
Que seus pecados ficam
Ou moram: fixados na cruz
(A que carregas ou a que adoras, 
A mim não importa)
Porque entre o teu e o meu ser
Tudo cabe e tem sentido.
Por isso tens-me calmaria, mas,
Admiras mesmo o brilho de meus olhos
Refletindo tempestades.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Emancipação




Eu sei que parecia que havia me domesticado,
Limitado a paisagem à sua janela.
Mas, tenho pensamentos de furacão,
E de meus olhos saem faíscas reluzentes,
Que fulminam seus pensamentos à meia-noite.
Mas, ainda é dia e precisa se acostumar
Com a cor violeta que o céu vestiu:
Hoje desconheço limites.
Hoje não lamento o que você perde,
Não ouço mais o que diz em prece.
Mas, lá no fundo, sou o que deseja:
Liberdade, passageiro noturno, sem pudores,
Sem rancores, sem planos.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Pernas e lençois



Eu bem sei das curvas em que derrapas,
Das estradas que percorres
Todas as vezes que buscas o céu.
Porque é aqui, no meu canto noite,
Que gostas de deitar
Que permites a embriaguez
E fazes sóis nascerem entre pernas e lençóis.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Raiz




Eu sei das lonjuras todas:
As das estradas e as do tempo.
Eu sei dos entraves todos:
A falta de impulso,
O pseudo-excesso de querência.
E, à essa altura de sua existência,
Permita-se fechar os meus olhos,
(Com a ponta de seus dedos 
Ou embrulhando-os em um beijo) 
E ver-se como eu o vejo.
Já estamos muito longe e é tão tarde!
Quanta vida ainda demora
Para chegar cantando versos de outrora?
Permita-me que me canse da espera
Que eu emudeça só por um instante,
que me conforme com a sorte
De não recebe-lo no portão.
Há um leve amargo iluminado de poesia  no silêncio,
E sua raiz é divina.
Permita-me confessar medos
Que tornam as lonjuras maiores
E, se puder, acaricia-me a face
Deixando-me desfeita em seu encanto.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Semeadura na Crescente



Marca o céu negro
Como se fosse um sorriso.
Como meus dentes brancos
Mordendo uma carne preta:
Contrastes e saciedades,
Cada um da maneira como pode.
E é tudo silencioso
Como essa crescente 
E como tudo o que cresce,
Sem alardes, sem pressa,
Só aumentando.
Gastando as palavras que eram poucas
E que se expandem com os dias,
Como se expande meu peito
Quando respira o seu cheiro.
Palavras poucas e setas
No alvo desesperado que é meu coração
Que repica ao som de sua voz
Que estremece ao toque sutil
Das pontas que me reserva:
Dos dedos, da língua, do Arpoador.
E arrasto madrugadas e horas
À espera do algoz e salvador
De quem vai ao mesmo tempo
Ser luz dos olhos
E ofuscar sentidos.
E eu preciso que venha.
E eu preciso que chegue logo
Validando o jogo de cartas da semana passada,
Dando razão ao oráculo,
Suplantando minha pouca fé
Matando-me vontades,
Semeando-me desejos.