(Foto: Saulo Otoni - São João Del Rei - MG)
Ao final dos cansados dias, semente.
Não sei se há o descanso
somente.
Talvez haja ainda caminhadas,
idas.
(Talvez estradas mortas não
sejam findas.)
Creio mais em brotamentos:
Plantados somos
(re)nascimentos.
E o que parece fim é começo.
E o que interrompe não rompe.
E o que cala não emudece.
Quando só há respirações
adormecidas
Despe-se do negro, do peso
Aceita o branco, a leveza.
Ao seu (eterno) sossego o
mármore dará guarida.
Será, para uns, caixa de
tesouros.
Para outros, porta joias de
agouros.
Ficarão guardadas ali lágrimas
e histórias
(Representarão afagos e
memórias)
E eu, caminhante entre as
pedras de outrora,
Perco-me entre frestas ou
fechaduras
E quase toco o silêncio que
vejo.
Um anjo pousou no tempo...
Está ali por saudade, por arte
Ou brinca, imóvel, de
eternidade?
Sei que segura, pra sempre, um
pedido reles:
Orai por eles.
(Eles) sofrem de dores longes
de consolos.
Sinto-me fora desse desejo, das
orações:
Sou alheio a essas devoções.
O anjo contempla o que não
vejo.
O anjo sente o que só imagino.
O anjo acolhe tudo o que o
cerca:
Letras, lápides, ais.
A ele cabem os abandonos e
desistências
Os esquecimentos, as
clemências.
Fosse eu aquele anjo e desceria
do posto
Ofereceria os braços em
conforto.
Fosse eu o guardião dos sonhos
esfriados,
Cederia pedaços dos meus,
Deixando intactos os nós que
ali se desfizeram.
Fosse eu aquele anjo e evitaria
as tristezas
Buscaria o encantamento longe
das melancolias
Experimentaria o gosto de paz
dos sorrisos
E o perfume das flores que ali
jazem,
Sinalizando o fim de si e dos
corpos,
Jamais sairiam dos campos.
Fosse eu aquele anjo, viraria
vento:
Rejeitaria ser guardião de
lamentos.
0 Comentários:
Postar um comentário