Economizei
palavras. Muito mais do que deveria. Não nos poemas. A esses mantive a rotina e
os enchi de tudo quanto poderia: de palavras a sentimentos, de cores a sons.
Não é porque
está escrita que a palavra não vibra, não toca a alma, não nos eleva aos céus e
nos faz criança contando estrelas.
Economizei
onde não poderia: ali, diante da única plateia à qual gostaria de ser ouvida e,
tendo seus olhos, meus holofotes preferidos, distanciado o foco, já quase
apagado, não sei mais se tenho o direito à palavra ou se tiver, não sei ainda
tenho voz. Escapam-me certas compreensões de mim mesma.
Economizei por
medo de assustar. Nunca se sabe onde os ecos do que é dito pode chegar. E,
nesse exercício, também me assustei pelo tanto que guardei, pelo tanto que
ainda tenho guardado, pela exposição que nunca fiz.
O que causa
certo espanto é que, ainda assim, em meio a meias palavras e a falseações, nos
entremeios do dito pelo não dito, houve uma compreensão silenciosa, tocante,
fraterna. Um envolvimento de sentidos que só quem domina os silêncios e seus
meandros consegue ter.
Meus silêncios
gritaram até aqui, na economia de minhas palavras. E, ainda assim, olhos
atentos me ouviram. De fato, não se deve subestimar as entrelinhas.
Existem
leitores de alma por aí, sob o mesmo céu que me espanta e encanta. E eles me
enxergam e me traduzem, como eu mesma já não acreditava ser possível. Seus olhos
me ouvem quando eu não sei bem o que dizer.
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