Visitas da Dy

sábado, 1 de outubro de 2016

Economias





Economizei palavras. Muito mais do que deveria. Não nos poemas. A esses mantive a rotina e os enchi de tudo quanto poderia: de palavras a sentimentos, de cores a sons.
Não é porque está escrita que a palavra não vibra, não toca a alma, não nos eleva aos céus e nos faz criança contando estrelas.
Economizei onde não poderia: ali, diante da única plateia à qual gostaria de ser ouvida e, tendo seus olhos, meus holofotes preferidos, distanciado o foco, já quase apagado, não sei mais se tenho o direito à palavra ou se tiver, não sei ainda tenho voz. Escapam-me certas compreensões de mim mesma.
Economizei por medo de assustar. Nunca se sabe onde os ecos do que é dito pode chegar. E, nesse exercício, também me assustei pelo tanto que guardei, pelo tanto que ainda tenho guardado, pela exposição que nunca fiz.
O que causa certo espanto é que, ainda assim, em meio a meias palavras e a falseações, nos entremeios do dito pelo não dito, houve uma compreensão silenciosa, tocante, fraterna. Um envolvimento de sentidos que só quem domina os silêncios e seus meandros consegue ter.
Meus silêncios gritaram até aqui, na economia de minhas palavras. E, ainda assim, olhos atentos me ouviram. De fato, não se deve subestimar as entrelinhas.                       
Existem leitores de alma por aí, sob o mesmo céu que me espanta e encanta. E eles me enxergam e me traduzem, como eu mesma já não acreditava ser possível. Seus olhos me ouvem quando eu não sei bem o que dizer.

0 Comentários:

Postar um comentário