Por todos os
caminhos pelos quais meus pés passaram... Por todas as mortes que vivi o luto:
de sonhos, planos, pessoas, livros. Pelo último gole, o derradeiro beijo, o
abraço perdido. Por todas essas e outras carrego marcas, de ranhuras a
cicatrizes profundas.
Projeta, o espelho,
o pouco de mim que os olhos podem ver. A outra parte cabe ao toque, ao cheiro,
à suavidade e sutileza, ao silêncio, à atenção de quem para às bordas de mim,
às minhas margens e tenta enxergar além da névoa que me cobre.
Desfaço-me ao
toque.
Desfaço-me aos
olhares.
Dentro de mim
jazem histórias. Algumas empoeiradas. Tantas esquecidas. Todas as formas de
romance, de aventuras, de traços e rabiscos que já ousei. Muitas ainda chegarão
a essa coleção que sou eu. E, com sorte, não terei problemas em dividir com
seus olhos.
E se me
encontro em tempos idos, fora desse desvario dos relógios atuais, é porque
busco a essência perdida nas curvas dos sentimentos que duravam. Ainda ouço
ecos dos passos dados nos séculos que atravessaram o calendário.
Se não caibo
nessas formas e padrões (pós)modernos não é pura questão de estilo. É, talvez,
de sentimentos. Sinto. Muito. Intensa. Intensidades. E não caibo em mim. E não
me contenho entre o salto (alto) e travesso e o chapéu que me emolduram de
inverno a inverno.
Ouso (re)contar
os fins que atravessei, mas a cada um deles reservo uma hora e despeço-me deles
com o raiar do dia, quando, mais uma vez, abro-me, caixa de Pandora, para o que
há de novo e de belo, de antigo e despercebido, de vontades e necessidades.
Já gostei mais
de estar sozinha. Já enfeitei meus dias apenas com a minha companhia.
Dulcíssima. Já fiz versos mais desprendidos. Fui de prosas longas e tristes.
Também fui de cores calmas, hoje, fogo. Ardo.
Saltam-me as
necessidades urgentes de perder-me na luz que vi em olhos que pouco me viram,
mas que tocaram as margens de meu ser. Saltam-se as vontades de escorregar pela
borda daqueles olhos. De mudar-me para os limites entre o que se sonha e o que
se vê.
Impulsiona-me
o desejo de mudar o endereço, a rota, a rotina. De estar aqui e ali, em paz, em
mapas antigos ou atuais, pouco importa, desde que eu mude o eu por nós.
Pulsa em mim a
vontade, ainda presa no peito, mas latente, viva, ardente. Desatar-me os nós
com aquele olhar. Abrigar-me naqueles olhos e o chamar de lar. Extrapolar-me e
ser, ter, viver. Desejos crescentes como a lua que carrego comigo.
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