terça-feira, 31 de maio de 2016
segunda-feira, 30 de maio de 2016
Margens
Entre tantas palavras
Cabem-me as suas.
Entretanto, de suas horas
Colho, quiçá, minutos.
Ainda assim, semeia-me poesia
E abro-me em versos.
Estamos longe das Mil e Uma Noites,
Mas temos histórias dentro de histórias.
Traça-me linhas curvas,
Labirintos de paredes movediças,
De saídas emperradas,
De avisos desbotados.
Sinaliza-me companhia,
Mas só ouço o vento.
(E... sequer aprendi a ouvir os seus
silêncios
Agora tenho que fazê-los meus!)
Olhamos o mesmo horizonte.
Sou rosa dos ventos desgovernada.
Partilho os meus segredos
E para os seus, sou relicário.
Longe da santidade, próxima das
chaves,
Dos cadeados, do que encerram,
Daquilo que fecha
E só quando solicitado abre.
Partilhamos sonhos:
Dança pelos meus
Sorrio pelos seus.
Sinto-me só.
Há uma canção ao longe.
Danço e não sou vista.
Fazemos do mundo lá fora o nosso
Em seguida, só há o abandono.
Tenho olhos de fogueira
E o aqueceria nas noites,
E derreteria seus invernos...
Afastaria as escuridões
Com minha coleção de poeira
(de estrelas).
Por amor à vida, ainda admiro o sol
Mas chove aqui dentro.
domingo, 29 de maio de 2016
Amarras
O mundo parece-me uma jaula.
Para todos os lados que olho,
paredes.
O ar está pesado e sufoca-me.
Noite à dentro vagueio becos de
poesias,
Esbarro em rimas no meio do caminho
E, errante, não chego a lugar algum.
Com a morte anunciada das sombras
Abro as janelas e cortinas para a luz
entrar
O sol, alucinado, queima tudo o que
toca.
Queima minhas palavras noturnas.
Queima seu sorriso no retrato.
Queima minha pele seminua.
Queima as horas, fim dos dias.
E é cada vez mais clara a passagem do
tempo.
E é cada vez mais ritmada a dança do
fim.
Todos já sabemos que o mundo nos
oprime,
Que ele nos aperta e encolhe,
Que aos poucos nos engole,
E, ainda assim, lutamos pela vida.
Pela sobrevida de fincar uma raiz.
A mim, pela palavra, cabe o luto e
luto:
Tento deixar a morte alheia ao que
sou,
Fora desse ciclo da existência.
Respiro melhor assim.
quarta-feira, 11 de maio de 2016
Nada
(São Paulo, Primavera, 2015.)
Bebi o tempo em suas gotas
Embriaguei-me de horas.
Pousar meus olhos em você
Era necessidade urgente.
Enchia minha boca de seu nome
E marcava o tempo com meus versos.
Quisera eu que sua visão fosse eterna,
Mas etérea, pouco tem durado.
Ao vento tudo se desfaz
E eu aqui conto o nada.
Ouço o nada.
E, às vezes, (o) nada me dói.
terça-feira, 10 de maio de 2016
Reencontros
(Sobre os céus do Marrocos)
Segue seco o deserto
Mas inauguro nele um oásis:
Escorrem de meus olhos sonhos em gotas.
O que vejo de dourado e negro
É a peleja do dia com a noite.
Ninguém vence.
Fazem trégua.
Cada um a seu tempo, reina.
Aqui dentro estou onde deveria:
Nas areias movediças do tempo,
Imersa nos fusos (horários), confusa.
É um paradoxo.
O desconhecido me engoliu
E agora faço parte dele.
Sei que pertenço a ele, a essa terra.
Experimento um encontro de desertos:
O que sou, o que vivo, o que atravesso e o que vejo.
Há um (re)encontro meu com meu interior.