Visitas da Dy

domingo, 15 de novembro de 2015

Sobre a Loucura





Se de médico e louco todos temos um pouco, eu, poeta, faço mea culpa e fico com o muito. O pouco não me agrada. E esses limites que colocam não me aprazem. Sei lá de onde vim, para onde vou ou quando vou. Sei o que quero. Ou nem sei...
Se me cabem as palavras, me visto de verso. Se só me sobraram silêncios, juntos os cacos, faço mosaico. E do grito que agora calo, logo faço estardalhaço: sou poeta, seu moço! O que não digo, escrevo. O que não revelo, entrego, de bandeja, nas entrelinhas. Essas linhas que preencho e nas quais me equilibro.
Ah, o equilíbrio... a busca pela razão. O quê? Quando? Onde? Porquê? E são tantas as interrogações que já me perdi nas curvas. Cansada, saltei do trampolim das exclamações. São mais esguias. Permitem visões mais amplas lá do alto. E salto. Alto. Charme na caminhada. Passarela a céu aberto, a vida me espera. Plateia, dispenso. Olhares quero só um. Um par. Castanhos, por favor. Os verdes já tenho. Gerei.
Ah, essa vida... E essa tal loucura? Voltemos ao início. À busca. À resposta... Virei o mundo. Mochila nas costas. Horizontes visitados, tratados rasgados, convenções... Faltei a quase todas. As gentilezas eu guardei. No bolso da camisa, perto do coração, pra ficar aquecida de afetos. Aqueles que me afetam... e já saio da normalidade de novo... é porque me assumi  de posse da loucurinha nossa de cada dia e fiz dela a minha companhia. A minha parte. A melhor delas. A mais espontânea. A que tem asas mais bonitas.
Médicos não visito. Diagnósticos tenho os meus: sou louca, sim. De amores. De sabores. De aventuras. De versos, sonhos com flores e perfumes. De manhãs de domingo na quarta-feira. Dos padrões que picotei e joguei pela janela, con-fe-tes! Fiz carnaval e nem gosto de arlequins. É que fujo mesmo é da normalidade. É que assumo mesmo, que essa coisa de ser formatada não me deixa crescer. Não me deixa viver.
Cabe, então, um sorriso. Uma piscadinha de olho para a loucurinha. Essa companheira fiel de quem vê nas palavras, o fio do labirinto, o sentido da meada, a salvação daquilo que é normal e cinza e chato e se libertou das algemas invisíveis dos padronizados dias iguais.

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