Eu sou uma farsante. Sou uma assaltante. Uma criminosa dessas
que merecem toda a sorte de castigos. E eu mesma me castigo: no silêncio,
calando meu grito.
Não nasci para as palavras, mas enveredei-me por elas de
teimosa. Agora faço rima, prosa, verso. Conto um conto, esqueço um ponto.
Dei para ouvir a conversa alheia. Dei pra imaginar desfechos para
as histórias que não termino de ouvir.
Enlouqueci. De repente, inspiração: saco logo o caderninho, com
o lápis na mão. Lá vou eu escrever.
Aventuras, desventuras, alegrias e tristezas, não me importa o
que será, só me importa a vontade de contar. E traço letras num sobe e desce
quase vertiginoso da ponta da caneta no papel, letras que não gostam de ficar
sozinhas e vão se ajuntando, se organizando em palavras que dizem muito mais do
que poderiam, muito menos do que eu gostaria.
Aproprio-me de seu tormento, faço dele uma alegoria, em pouco
tempo já tenho um novo enredo, já escrevi o texto nosso sagrado de cada dia.
Sinto-me como uma ladra de histórias, roubando-as em cores em
plena luz do dia. Ao mesmo tempo sinto-me assaltada, pega de surpresa, vendida
e abobalhada quando olho para as linhas e me reconheço em cada trecho. Mas essas
histórias nem eram minhas! O que faço eu nas entrelinhas?
Ah, não dá pra entender, no máximo, compreender e me acompanhar
pela madrugada, dividindo comigo mesma a paciência que nunca foi minha, bebendo
comigo da minha própria insônia e lendo as histórias que não eram minhas, mas
acabaram por ser adotadas como filhas. Em noites muito longas eu sou a minha
própria companhia e gosto disso.
Já não sou mais de riso e sonhos. Agora sou de vento e voo. E as
palavras são as asas que me levam cada vez mais longe, cada vez mais pra dentro
do meu céu de pensamentos.
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