Por muitas vezes ela olhava a lua nas noites
quentes enquanto ele dormia pesadamente na cama, palco de seus momentos de
cumplicidade.
Era uma “filha da noite”.
Gostava de ficar acordada enquanto todos dormiam. Gostava do silêncio das
madrugadas, o que parecia contraditório já que ela afirmava não gostar de silêncio e
passava a maior parte do tempo ouvindo músicas ou cantando.
Gostava de ver o vazio das
ruas, o voo de aves noturnas. Gostava de dar asas aos seus pensamentos e isso
acontecia com mais freqüência nas noites, no escuro, naquele silêncio aveludado.
Naquela noite, ela parou para
conversar com a lua. Revelou-lhe o medo que sentia de vê-lo partir um dia.
Ninguém sabia ao certo, mas ela era insegura, pensava muito em várias
possibilidades para cada situação, para saber como se comportar, justamente
para esconder essa insegurança toda, para esconder a sua fragilidade. Às vezes, não raro,
conseguia, mas por dentro ela tremia.
Lá no fundo de seu coração,
olhando aquele corpo adormecido, ela sentia que o fim estava próximo, que
aquela história tinha um prazo de validade.
No escuro ela se perguntava
se de fato o amava. Apesar do tempo em que estavam juntos ela não sabia
responder se era amor ou se era costume e começou a imaginar situações para tentar entender o que se passava.
Aos poucos deixou de
imaginar e se pôs a lembrar os momentos que passaram juntos, os sorrisos, as
lágrimas e os abraços – ela adorava abraços!...
Voltou a olha-lo dormindo,
relaxado, tranquilo, entregue aos sonhos, imerso nos lençóis e na noite que
seguia lenta...
Num instante ela sorriu e
percebeu que era mais um caso desses “amores passageiros”. Mais uma paixão que
ela colecionaria. Olhou o rosto dele sereno na penumbra do quarto. Lentamente
se vestiu, pegou a bolsa e foi para a porta. Antes de sair ela ainda escreveu
um bilhete para ele: “mais um amor que virou bom dia...”. Deixou o papel sobre
a mesa. Virou as costas e partiu, porque logo o sol romperia a barra da noite;
porque algumas pessoas passam por nossas vidas só par deixarem uma saudade
gostosa, para nos lembrarmos que existem momentos felizes.
Partiu porque entendeu que a vida era curta demais para que ficasse ali, sem ser sinceramente feliz.
Partiu porque entendeu que a vida era curta demais para que ficasse ali, sem ser sinceramente feliz.
Ela saiu daquele quarto rumo
à sua felicidade que só podia ser construída por ela mesma e que não seria ao
lado dele.
Ela partiu porque descobriu naquele momento que a felicidade é uma coisa na qual precisava correr atrás.