Faltava a casa. Não uma construção, paredes, quadros, mobílias,
fotografias. Isso existia. Faltava o sentimento de autenticidade, o
reconhecer-se parte de tudo aquilo. Faltava a integração. Faltava um calor,
acolhimento, fortaleza.
Faltava tanto que a boca chegava a amargar memórias inventadas
de um além-limites no qual, agora, estava em imersão.
Em certa medida, queria voltar ao passado, mas esse, só era
conhecido de maneira muito vaga, pelo inconsciente, através de seus efeitos de
torpor, nos minutos antecedentes ao sono, tangentes ao delírio, à invenção e
aos desejos mais puros (originais, não virginais).
Buscava um refúgio na linguagem, em símbolos e códigos que
pudesse usar para transportar-se para um lugar seu, de fato e de direito. E essas
construções nada tinham de magníficas. Não chegavam a ser castelos, nem
paisagens elaboradas. Reinava a simplicidade. A insustentável beleza do vento. A
paz carregada na asa de uma borboleta. O som do amado-passarinho em cantos de
entardecer.
(D)escrevia, de certo modo, uma floresta de significados
próprios, cruzamentos de vontades, esquadrinhamentos das constelações que eram
seus pensamentos e, como navegante interestelar, sentia-se finalmente em casa.
Não dominava um estilo. Não dominava a si. Não tinha intenções
tão grandiosas. Apenas buscava o movimento de existir junto a algo mais, algo
no qual pudesse ser parte e isso estava além da casa, além do tempo. Estava, em
verdade, atrelado à busca. E era isso: a casa só passava a existir pelo único
propósito da procura. No mais, tudo era espera. Tudo era um eterno pairar sobe
o tempo, enquanto esse passava ligeiro como um rio, rumando para as outras
tantas casas que também só existiam para seus donos enquanto uma viagem em um
contexto quase filosófico da escrita, uma poesia desprendida de sentido,
apegada apenas à leveza do bem-querer.
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