Sou de fogo,
por dentro e por fora. Às vezes pareço meio mansa, meio desligada, meio brasa. Mas
é bom que seja assim. Na verdade é só um estado de latência. Como um vulcão,
gigante que dorme na montanha, que acorda raivoso e se joga para o alto e
arrasa o que quer que seja. Sou fogo, manso, chama que aquece, calor que
conforta, centelha que não cessa. Cintilando noite à dentro, dias a fio,
bailando com o vento, medindo seu calor com o sol, sua força com a vida.
Sou de água,
fluida, leve, que leva, que passa, que arrasta, que desliza e destrói. Água doce,
calma, que escorrega pelas pedras, que desce as montanhas e se lança no
infinito em queda livre pra buscar a liberdade que sonha estar no mar. Sou água
de sal, ondas revoltas que quebram na praia, arrastam conchas e sonhos e os
afoga. Que lambe a areia e apaga rastros, que vai e vem na busca eterna de algo
que nem sabe o que realmente é.
Sou de terra,
firme, solo seguro. Base de fortaleza, força e solidez que se desfaz com o
vento, vira areia. Voa pra longe, mistura seus grãos e já não tem mais a aparência
de antes, se mostra frágil, meio perdida, buscando algo para se moldar.
Sou de ar, que
flutua, que ninguém vê, mas que todos percebem. Faço-me brisa, rodopio em
vento, balanço os cabelos e levanto as toalhas, faço as folhas sacolejarem ao
meio-dia e as janelas assobiarem à meia-noite. Trago notícias imersas em
canções, lembranças cheiros bons da infância, imagens que ganham cores com o
brilho do sol.
Sou uma
mistura do que sou e do que não sou, porque se ora estou em calmaria é porque
momentos de tempestades já passaram. Se hoje a brisa paira, os furacões já
dizimaram. Sou paradoxos e contraditórios, sou gente, sou mulher, que arde,
gela, chora, voa e dança, canta e brinca.
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