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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Sobre semear a mãe ao solo



(Dy Eiterer, 04/01/22, pelo falecimento de Edna-mãe)




3:45h da manhã e o silêncio é parido das entranhas. 

Entregue a partir de um suspiro.
Serenidade é uma boa definição, já que a morte deslizou pulmões à fora e se petrificou no corpo com uma mansidão terna e uma intimidade de velha amiga, que já conhecia o caminho.
E, talvez, a morte se sentisse mesmo em casa já que havia sido anunciada num por-do-sol que não aconteceu porque chovia. De aconchegante só o abraço que embrulhou a notícia.
A morte veio como amiga trazer um tanto de conforto, um tanto de descanso, outro tanto de alívio e, por fim, a paz.
Estou feliz e dói. E por mais que pareça um paradoxo a morte me trouxe uma dose (pequena ou tranquila) de felicidade. Não a felicidade de uma festa. Mas a felicidade do dever cumprido e da entrega.
A morte não veio ceifadora. Ao contrário, ela veio semeadora. E, hoje, a árvore que sou se orgulha do fruto que tenho e coloco um pouco mais fundo, na terra, a raiz que me sustentou e nutriu até aqui.
Semeei meu tanto de amor-primeiro no seio da terra.
A morte me trouxe a alegria da entrega: a certeza de que o caminho foi percorrido e o de que o fim é certo.
Estou feliz e dói. Feliz porque cumpri meu papel amoroso até a suavidade do último suspiro. Dói porque o peito fica oco e quando venta seu nome só há o eco do passado.
Ainda vou me acostumar com a sua falta. Mas era tempo e hora. E agora me renasce em prosa com ritmo de poesia.
A morte pode ser uma alegria: um amanhecer de fé e autoconhecimento, uma metáfora ou uma experiência. Pra mim e pra você foi serena e linda. E agora, eterna. Já que a fiz poesia.

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