Visitas da Dy

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Fotografia do silêncio

 


(Foto: Rafael Bouças)



Fotografaram seu silêncio

Sua concentração

Sua entrega

Sua imersão

O que tinha nas mãos não aparece

Só seu olhar vago

Sua falta de palavras

Sua imensidão diante do tempo

E eu queria ser a dona daquelas lentes

Queria ter captado aquele momento,

Aquele instante em que, no mundo,

Só havia você, seu silêncio, sua luz.

E olho daqui, da janela, admirada

Imaginando o que seu silêncio dizia

domingo, 16 de janeiro de 2022

O tempo e a hora

 




Aceita que o tempo lhe atravessa

E arranca de suas entranhas

Sentimentos, afetos e lembranças.

Aceita que o tempo é vento gelado

E corta seu rosto e sulca rugas.

Aceita que o tempo é brando e morno

E aquece seu peito cheio de saudades.

Aceita que o tempo passa em seu ritmo

Que ele é seu fiel amigo

Que só ele embala seu ser.

Aceita que o tempo te deu a vida

E que ele também a levará

Não importam os caminhos que andar.

O tempo, só ele, cura e acalma,

Aquieta e serena.

Só o tempo lhe sabe e lhe cabe

O resto é ilusão

sábado, 15 de janeiro de 2022

Das longas horas

 


 

Às vezes, o tempo parece suspenso.

E parecem suspensas minhas alegrias,

Contando horas, engolindo rotinas.

Bebendo lentamente o vinho bom

Que em outras horas bebemos juntos.

É um afogar de saudades

Enquanto elas não morrem em abraços.

É um suspiro, uma música,

Mais uma poesia...

E a semana se arrasta...

Sigo à sua espera.

 

 

 



sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Estação nova

 

 



Se aqui dentro é inverno,

Sua chegada faz verão.

E a cada novo gesto

Suas palavras dão bênçãos.

Escuta bem o que digo

E mais ainda o que emudeço:

Acolhe desejos e planos,

Ensina, educa e edifica

Quando o tudo parece perdido.

Enquanto sou rosa dos ventos

Girando, um pouco perdida,

Faz-se bússola de meu Norte

E aponta meus pés para os caminhos.

Logo ali, paralelas se cruzam.

Logo ali, as mãos seguirão juntas


 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

À guisa de presente

 

 



 

(Natal de 2021, para o poeta que me presenteia com seus versos quase todos os dias)

 

 

Na falta do que dizer, poema.

Na falta de presente, verso.

Poderia eu ser melhor com as palavras,

Encaixar rimas, conjurar encantamentos

Ou, a essa hora, ser passageira,

Mais uma dúzia de palavras

Entre as outras tantas centenas

Amontoadas no canto dos seus ouvidos.

Nesses dias de festa, muito barulho,

Pouca pausa, muito afeto.

Perco-me na breve reticência que sou.

Devia contentar-me a ser vírgula,

Um respiro ou outro,

Sem grandes extensões,

Quieta em minhas distâncias.

Mas meus vermelhos, inquietos,

Asseguram-me de não esquecer,

De inventar prosa sem motivo,

Só pra ver o poeta falar.

Acho que sou boa nisso:

Quebrar seus silêncios

E me deleitar

 

(O que seria de mim sem sua poesia?)

 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Terras Absurdas

 

 




Ora, se já não caibo em mim
Se poucas vezes me encontro em ti
Tampouco servem-me as esquinas,
Creio ser a hora de partir.
Fazer as malas e sair
Enquanto dormes,
Tranquilo e longe
(do meu lado só quando o invento).
Sem adeuses, sem nada.
Se esse não é meu lugar
Irei em busca de onde me reconheço
Uma terra de absurdos:
Onde vermelhos e poesias se casam
Onde toda noite é de amores e incêndios
Onde mordo sentidos
E recebo sussurros.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Obediência

 

 



 

Saí vagando à noite

Obedecendo aos meus pés

Não olhei adiante

Tampouco para trás

Caminhei.

Atravessei horas a fio

E crescia em mim uma semente de certeza.

Da certeza do seguir.

De saber que aquilo que me demora

Não me devora nem apavora:

 Consola e alimenta.

Se às vezes duvido das escolhas,

Se duvido dos caminhos,

Devo confiar em meus pés:

Eles sabem dos caminhos

Eles os fazem.

Só obedeço.