Visitas da Dy

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Oníria



A despeito das velocidades que saltam os relógios, nesse momento, com todas as calmas que já pairaram sobre essa terra, eu colheria seus beijos, frutas saborosas de toda (e nenhuma) estação específica.
Para além de toda beleza que é contemplar o mundo através de seus olhos, eu atravessaria longo tempo com os meus fechados, recebendo o acarinhar de seus lábios, enxergando as sutilezas do toque e as quenturas próprias de um verão que teima em arder em pleno inverno.
Sendo o mundo um vasto emaranhado de rumos, um descanso certo sob árvores ainda seria pouco se em seus abraços eu encontrasse pouso, ainda que rápido, ainda que vadio, porque conforta-me e fortalece-me o envolver de seus braços, assim como renova-me o deitar sobre seu peito, casa minha.
Ainda que os versos fossem muitos, faltariam definições para o que vejo e o que sonho, mas toda tentativa seria justa, se não, esforço, de beirar a realidade inalcançável, prece nossa de todo o dia, quereres nossos de todo dia, vãos nossos em busca de sentidos todos os dias.  

Estando eu na condição de amante do intangível, aprendiz dos segredos de Nix e Eros, colheria não só seus beijos, abraços e sonhos, mas a sua imagem refletida na borda de meus olhos, definição perfeita do inesperado: se me salta e abandona, choro. Se me fica e cativa, rendo-me. De resto, não sei o  que fazer. 

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Bandeira




Hasteou, mais uma vez sua bandeira.
Conhecida de todos, sua cor não negava a luta.
Era de uma fé quase religiosa, quase cega,
Dessas que só conhece quem já bebeu do amor.
E, se não fosse essa a razão, nem ousaria sair do lugar.
Desarmou-se para a batalha.
(Peito aberto é o melhor dos campos para se travar combates.)
Desafiou os ventos que lhe sinalizavam para não seguir.
Embora o cansaço de outros tempos lhe pesasse nos ombros,
Embora as cicatrizes lhe marcassem o corpo,
Embora o medo lhe segurasse a mão, ousou.
Desbravou caminhos que lhe pareciam conhecidos.
Ao redor, tinha a impressão de déjà vu, mas fez seu caminho.
Hasteou sua bandeira heroicamente.
Esqueceu-se que tinha os poderes de Midas,
Mas ao contrário.
Aos poucos contemplou a ruína,
O esfacelamento dos esforços.
De novo era como o náufrago,
De novo era embarcação abandonada.
De novo precisava se recolher,
Infinitamente era apenas pedaços.
A mão ainda segurava a bandeira quando se viu em abandono.
A mão ainda recusava-se a desistir,
Mas a alma ferida mais uma vez, dormiu.
E, por mais que parecesse paz, era mausoléu.
Era o sono de exaustão.
Era bilhete rejeitado num pedaço de papel.
Era sombra à espera de sol,

Noite infinda, porque esqueceram de lhe despertar com o novo dia.