Visitas da Dy

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Paradoxo



Sou de fogo, por dentro e por fora. Às vezes pareço meio mansa, meio desligada, meio brasa. Mas é bom que seja assim. Na verdade é só um estado de latência. Como um vulcão, gigante que dorme na montanha, que acorda raivoso e se joga para o alto e arrasa o que quer que seja. Sou fogo, manso, chama que aquece, calor que conforta, centelha que não cessa. Cintilando noite à dentro, dias a fio, bailando com o vento, medindo seu calor com o sol, sua força com a vida.
Sou de água, fluida, leve, que leva, que passa, que arrasta, que desliza e destrói. Água doce, calma, que escorrega pelas pedras, que desce as montanhas e se lança no infinito em queda livre pra buscar a liberdade que sonha estar no mar. Sou água de sal, ondas revoltas que quebram na praia, arrastam conchas e sonhos e os afoga. Que lambe a areia e apaga rastros, que vai e vem na busca eterna de algo que nem sabe o que realmente é.
Sou de terra, firme, solo seguro. Base de fortaleza, força e solidez que se desfaz com o vento, vira areia. Voa pra longe, mistura seus grãos e já não tem mais a aparência de antes, se mostra frágil, meio perdida, buscando algo para se moldar.
Sou de ar, que flutua, que ninguém vê, mas que todos percebem. Faço-me brisa, rodopio em vento, balanço os cabelos e levanto as toalhas, faço as folhas sacolejarem ao meio-dia e as janelas assobiarem à meia-noite. Trago notícias imersas em canções, lembranças cheiros bons da infância, imagens que ganham cores com o brilho do sol.
Sou uma mistura do que sou e do que não sou, porque se ora estou em calmaria é porque momentos de tempestades já passaram. Se hoje a brisa paira, os furacões já dizimaram. Sou paradoxos e contraditórios, sou gente, sou mulher, que arde, gela, chora, voa e dança, canta e brinca.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Óculos Escuros - sobre os olhos e o amor


Aproveitando o ensejo do dia dos namorados, segue um texto que, embora tenha sido feito bem antes de eu conhecer o texto de Ibn Hazm, bem que poderia ter sido inspirado por ele. Antes, porém, apresento a vocês um fragmento do livro “O Colar da Pomba: sobre o amor e os amantes”, extraído do capítulo “sobre os sinais do amor” de Ibn Hazm de Córdoba:

"O amor tem sinais que podem ser acompanhados pelo perspicaz e percebidos pelo inteligente. O primeiro deles é a assiduidade do olhar, pois os olhos são a porta aberta da alma: são eles que lhe devassam os segredos, que lhe expressam o íntimo e falam por seu âmago. Assim, você vê que quem olha não se distrai, mudando o olhar conforme o amado muda de lugar, fixando-o onde ele se fixa e estendendo-o para onde ele se estende, tal como o camaleão ao sol..."


Agora sim, o meu texto!




Então, o que vem a ser o amor? O amor é quando o uso dos óculos escuros se torna inevitável! É pelos nossos olhos que nos reconhecem quando amamos. Entramos em estado de graça e os olhos são os nossos primeiros delatores: eles brilham, seguem nosso bem amado por todos os cantos, por mais que ele teime em correr entre as pessoas e passear por todo o salão.
Acredito que os olhos sejam as janelas da alma, por onde ela nos escapa e nos revela os segredos. Por eles saltam as palavras que a boca cala, envergonhada ou receosa. Os olhos não conhecem o sigilo: a tudo querem dar voz! O tempo todo estão a nos denunciar: são os primeiros a sorrir, os primeiros a derramar toda mágoa que ainda mora no coração.
Se o amor não morasse no coração de cada um, eu diria que os olhos poderiam cumprir o papel de sua morada. Faz-se radiante os olhos de alguém que está enamorado!
Os olhos falam alto, gritam seus desejos, nos faz cair em perdição se outros olhos, que são capazes de entende-los, por acaso se esquecem neles... e é delicioso quando nos pegamos com outros presos em nós, com certa displicência e um quê de petulância, de quem desafia o próprio dono, a própria razão.
Se está amando, meu caro, a menos que seja declarado, é hora de comprar óculos escuros, porque uma hora ou outra, seus olhos irão dar o sinal para quem quiser ver!