23 de setembro, sexta-feira,
dia de correria, de trabalho, de aula, de por o pé a estrada e de subir a serra
rumo a Juiz de Fora.
Rotina agitada, mas já me acostumei. Pelo menos duas vezes
por mês é isso: mochila nas costas e saudades, muitas saudades para serem
extravazadas nas montanhas mineiras.
Mas essa sexta tem um
gostinho diferente e ainda que a saudade da casa e da família seja enorme, já
que há 15 dias não vou pra junto deles, hoje o dia tem um quê especial.
Hoje é aniversário de uma
amiga que é de uma raridade tamanha, que tem um espaço enorme no meu coração e
que merece muito mais do que um simples texto, merece muito mais do que todos
os desejos de felicidades que lhe serão desejados nesse dia.
Vinícius de Morais diz que
amizade é encontro de almas. E eu assino embaixo.
A mocinha que aniversaria
hoje é Semiramis, alma-irmã com quem posso contar. Alma que posso afirmar ter
sido um dos melhores achados de minha vida.
Nos conhecemos há
pouquíssimo tempo se levarmos em conta os calendários, mas não há explicação
para a intensidade dessa amizade. Nem para explicar como começou.
Foi numa sexta-feira! Era
noite, primeira aula no curso de pós-graduação em Gestão do Patrimônio
Cultural. Eu já conhecia metade da turma: historadores companheiros de curso e,
claro, sentamos todos juntos. Semiramis sentou-se longe. Do outro lado da sala.
Nos olhamos, sorrimos, tudo muito normal, numa simpatia social e só.
Intervalo das aulas.
Trocamos meia dúzia de palavras e só. De volta à sala, a aula se arrastava… nos
olhamos e isso bastou pra que pegássemos nossos cadernos – sim! No primeiro dia
tínhamos, as duas, cadernos! – e saimos da sala já engatadas num papo animado,
tão animado que parecia que éramos amigas de infância.
Duas aulas depois e já
éramos assíduas frequentadoras das nossas casas: viramos membros da família uma
da outra.
Alguém explica isso? Alguém
explica essa rapidez em se consolidar uma amizade? Em se tratando de Edylane eu
acho difícil… boa mineira, desconfiada, tímida – isso é sério! – raramente saio
me abrindo assim… Vinícius de Morais explica: encontro de almas!
Com a Semiramis passei bons
e maus bocados naquela pós. Comemoramos o primeiro contrato dela na prefeitura.
Tomamos chuva. Viajamos pra Argirita, trabalhamos no JF Folia – Sodoma e
Gomorra! – por três noites seguidas, trabalhamos na w100… ela ainda está lá!
Matamos aulas – que feio! – muitas vezes pra ir pro bar beber… coca-cola: por
conta do trabalho ela não podia beber. Encontro certo era às 18h no Saulin:
x-bacon! O lanche da sexta-feira era sagrado! Depois virei professora dela num
curso de extensão da UFMG…
Cineminha na quinta-feira à
noite e por R$1,00 a sessão? Era com a gente mesmo: e muitas vezes a gente só
tinha as passagens de ônibus e o R$1,00 do cinema.
Vimos a Angelina Jolie
bancar o Magaiver em “Salt”. Choramos em “Comer, Rezar e Amar” – era tempo de
crise, todo mundo tinha namorado e a gente tinha livros pra ler!
A lista de filmes é grande!
Sócias do Cine Palace, o que não era nada ruim: construção tombada,
supercharmosa e a gente se divertindo!
Meu filho virou “o meu loiro
lindo” da tia Semiramis… minha mãe passou a sentir falta dela quando a carga de
trabalho aumentou as visitas começaram a diminuir e o telefone tocava pouco.
2010 não foi um ano fácil.
Ao finalzinho do ano pressenti que meu telefone ia tocar. Eu que fico de
pijamas até a hora de sair de casa resolvi me arrumar logo após levantar da
cama. Alguém podia me ligar e eu precisaria sair correndo: se já estivesse
arrumada seria mais fácil.
O telefone tocou. Do outro
lado uma voz fraquinha, longe, e uma frase aterradora: “Dy, meu pai…” não quis
nem saber. Voei pra casa dela e descobri que quem tinha voado era o Sr.
Geraldo… pai de Semiramis, pai emprestado de Edylane. Exemplo, amigo,
brincalhão e bom cozinheiro. Voou pra longe de nós sem dar a menor explicação,
como quem vai ali na esquina comprar pão e não volta… que dor! Não sei dia, não sei a hora, mas lembro que sai de
casa num dia e só voltei depois de ter certeza de que minha amiga estaria
minimamente bem.
Dias difíceis. Até que a dor
se trasnforme em saudades demora muito. E acho que nunca se transforma de todo…
sempre fica uma dorzinha, como um espinho que não sai nunca.
Superados o susto, a dor, a
saudade, as coisas começaram a voltar a seu eixo.
Juntas comemoramos cada
etapa da minha entrada no mestrado: aprovação do projeto! Uhu! Festa! Aprovação
na prova teórica: oba, bora pro bar! Aprovação na prova de línguas: Yo
sabía que hablaba bien el español! Vamos a beber
un mojito! Aprovação definitiva: três dias de comemoração sem parar!
No meu aniversário a maior
de todas as surpresas: uma festinha na pós e fiquei sem palavras, emocionada,
com os olhos cheios de lágrimas… que lindo!
E natal e ano novo e
carnaval e páscoa e todas as comemorações e a gente junto! Ah, quantos bons
momentos!
Difícil foi ter que vir de
vez pro Rio. Difícil foi deixar minha amiga pra trás – e todos os amigos
também!
Hoje, acostumo-me à saudade,
mas não esqueço um dia sequer dela!
Hoje, escrevo palavrinhas
simples, que relembram partes importantes de nossas vidas, que mostram parte
daquilo que ela deixou marcado no meu coração.
Hoje busco palavras que
sejam suficientemente boas pra dizer o quanto eu amo essa mocinha e o quanto
ela se faz importante em minha vida.
Que nesse aniversário, que
comemoraremos daqui a pouco, tenha a sabedoria necessária para enxergar os seus
obstáculos e encontrar as soluções. Que cresça nas dificuldades, que não me
esqueça e que conte comigo. Que seja feliz a maior parte de seus dias, que
chore muito de felicidade, que tenha muita saúde, muita paz e amor. Que alcance
o sucesso e não perca sua raridade nunca.
Que jamais deixe de ser
sincera, forte, crítica, divertida, amável, menina! Esses ingredientes te fazem
ser tão especial. São eles que a temperam e a colocam como um ser tão especial pra nós que
felizmente temos o privilégio de lhe conhecer.
Obrigada pela amizade franca
e verdadeira.
Obrigada por fazer parte de
minha vida.
Obrigada por entra em meu
mundo e não o criticar.
Amo você grandão!
Felicidades, minha querida!