Visitas da Dy

sábado, 23 de outubro de 2021

Ansiedade

 





Eu era uma bomba prestes a explodir.

A tensão entre o dedo e o gatilho.

E você disparou:

Explodi.

Faltou ar

Faltou som

Eu era um peixe fora d'água,

Debatendo

Lágrima escorrendo

Silêncio noturno

Que durou pra sempre.

Sobrevivi. Arranhada. Doída. Viva.

Recuperando o ar junto ao mar.

Ainda bem que amanhece.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Transgressão

 



 

Quando a ordem do dia exige a completude,

Ouso transbordar.

Quando tudo pede suficiências

Ainda busco respostas.

E, seguindo nesse caminho,

À sombra de seus saberes

Adormeço e sonho, aprendo e cresço.

Por mais que me digam: baste-se!

De alguma forma fujo à regra.

Transgrido às ordens: preciso de você:

Preciso da poesia!

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Convocação

 



Não há tempo que não vire,

Céu que não se parta ao meio.

Das brisas que guardo no peito,

Sopro minhas calmarias em sua fronte:

Descansa, prenda minha!

Guardo seus sonhos e afagos,

Guardo minhas forças e fogos.

Repouso em seu peito-cais,

Ouvindo as ondas de desejos.

Quase descanso do longo dia,

Mas resisto entre cochilos

E sigo atenta aos sinais de ventania.

Rasgo o ventre em tempestades,

Parindo trovões,

Iluminando madrugadas:

Desperto seu sono

E ressoo canções antigas.

Luta ao meu lado, prenda minha!


terça-feira, 21 de setembro de 2021

Luz do Dia

 



(Texto publicado no SUPLEMENTO ACRE)


Às margens de sua boca o meu nome

E toda vastidão de meus quereres.

Há rumores de que eu morreria por um beijo

E exponho-lhe cada um de meus desejos.

Já não conheço a saída de seus braços

Ali me entrego, me perco, me acho.

Ali faço morada e anoiteço

Repouso quase tranquila

Esperando que me olhe e amanheça

Porque desde a primeira hora

É de seus olhos a luz do dia

E por eles somos iluminados.



 

  



segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Cada coisa em seu lugar

 



De sua teimosia matinal, o brilho.

Calor que derrete horas e sons

E desembrulha um tanto de silêncio

Como quem acorda manso

E vê o sono indo embora

(Pela fresta dos olhos entreabertos).

Mas, de sua despedida, fico com as cores,

Com o cheiro bom da Lua chegando,

Com outro tanto de silêncio 

Guardado pelos cantos.

Enquanto o céu se pinta

De aquarela azul e dourada

Para receber estrelas 

Enquanto traço planos.

Enquanto semeio sonhos

São suas cores que me embalam.

E o sol se indo,

Pondo cada coisa em seu lugar.

domingo, 19 de setembro de 2021

Rio às avessas

 



Por vezes, lugar nenhum me cabe.

Como um rio às avessas,

Que não sobe nem desce.

Quase congelo.

Perco a fluidez, a capacidade de deslizar.

Perco a vontade de ir pra Foz.

Esqueço-me que já fui nascente.

Mergulhe em minhas águas,

Reaviva meus afluentes!

Tenho ganas de correnteza

Que deságuam sob seus pés.

sábado, 18 de setembro de 2021

A partir daqui

 



Até aqui fui espera.

Cansaço do passado,

Sede de futuro

E um tanto de angustia e medo.

Até aqui era um misto de luz e sombra

Um não saber de sua existência

Embora o querer palpitasse

E lá no fundo já era sabido

Que o meu querer o criaste

Tal qual era em minha espera.

A partir daqui é um precipício

E tenho asas por abrir.



quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Do pressentimento

 



De entrelinhas, o recado.

Do silêncio, o grito.

Dos cacos, um mosaico.

Para tudo, o tempo.

Seguir.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Vã Filosofia

 

(Foto: Luis Vinicius - +Luz Fotografia)


Desce dos céus a aquarela,

Pensamentos tantos...

Tristezas azuis,

Infâncias transparentes,

Amores alaranjados

E, aqui dentro, uma saudade amarela.

Como se fosse uma prece,

A torre rompe o céu.

Pintura que eleva:

Eis o mistério que tentamos revelar.

O que há entre o céu e a terra?

Cores, mares, morros,

Esperança e vida!

domingo, 15 de agosto de 2021

Jardim

 


(imagem de Luiza Guedes)


Semeia em mim seus sonhos

E farei deles parte minha:

Broto, poda, colheita.

Talvez eu saiba ser jardim.


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Dança na Madrugada

 



Às vezes, tudo o que preciso é de dança.

No escuro, em silêncio interior, sozinha.

A música me tocando, levando,

Porque é vasto o mundo e seus absurdos.

Porque não compreendo o presente,

A palavra, o passo dado,

O afastamento que me pega pela mão.

Às vezes, só a dança salva da tristeza,

Aquela tristeza do domingo,

Que não me tira da cama,

Não me afaga os cabelos

Nem diz quem me ama.

Às vezes, tudo o que eu preciso é  dança:

A única entrega do corpo que cura,

Que deixa o transbordo leve,

Que expande o que não sei dizer.

Meu corpo dança 

Quando não sei sentir.

E, agora, não sei se vou ou fico:

Estou perdida entre os passos.

Danço na madrugada.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Entre o dourado e o azul

 



Então, és a parte mais ensolarada do dia

(Que eu aprendi a gostar).

Raio de sol teimoso,

Invadindo a janela do quarto,

Incendiando a cama

(Que eu não queria abandonar).

Luz que aquece, envolve e irradia

Um não sei o quê de vida,

De poesia, de calmaria.

Então, és água transparente e profunda

(Que mergulho cada vez mais).

Objetividade de um rio,

Força e tamanho de um mar.

Oceano que acalma meus ouvidos

(Apaga dúvidas e ais).

Eis que entre o dourado e o azul, és céu:

Recebe as tempestades que crio,

Acolhe meus amores, agora, seus.




quinta-feira, 22 de abril de 2021

Pensar Alturas

 




Antes, tudo era queda.

Pensava em alturas e tombos.

O corpo caído no chão, cacos.

Meus desejos flutuando nas escuridão,

Sussurrados num silêncio atordoante 

A boca entreaberta de ventanias

Um tanto de sopro outro de furacão.

Esbravejando minha pouca sorte,

Contando sombras e noites.

Agora, é queda livre.

Vôo abandonado em por do sol

Penso alturas e incandescências

E deixo o corpo pousar no chão

Onde quer que seja, onde que queira

Não mais fogo contido,

Mas incêndios provocados.

Sou chama viva.


quarta-feira, 21 de abril de 2021

Previsões

 





Olhos fechados, corpo imóvel.

Só um respiro negava a morte.

O tempo escorria entre os cabelos

Ganhava o rosto e o colo

E o viço das cores já havia esmorecido.

Mas, até para morrer há um tempo

E esse não era chegado.

Chegada era a hora de se abrir,

Dos olhos buscarem além:

Uma nova vida de promessas,

De memórias por construir

Como quem já conhece o futuro

Não por ter estado lá

Mas por deseja-lo em profundo.



domingo, 28 de março de 2021

Devota

 





Quantas vezes me quebrei?

Cicatrizes.

Quantas vezes fui pequena?

Canções.

Quantas vezes tive medo?

Desafios.

Quantas vezes chorei?

Sonhos.

E para tantos quantos ainda virão,

Rascunho.

Porque a poesia me assombra

Com sua força renovadora

E me recria e ergue e alivia.

Porque a palavra traz a salvação:

Sagrado Dom de silêncio e paixão.

Tornei-me sua devota.

sábado, 27 de março de 2021

De sua chegada

 




Vieste no exato momento do desassossego.

Na brecha de meu descuido.

Na fenda de minha armadura.

Colheu de tudo um pouco:

Um silêncio que brotava no céu da boca,

Um brilho escondido no canto do olho,

Um sorriso largo abandonado nos lábios.

Colheu e semeou.

Mas, não esperou nova colheita.

Antes, pôs-se a cuidar, a ver brotar.

Um jardineiro fiel à flor desconhecida

Com cheiro de jasmim em primavera estendida

Florescer não depende de estações.

quinta-feira, 18 de março de 2021

(Sobre) viver

 





Corri. Corri tanto que me perdi.

Era um abandono de dores.

Era um desvencilhar dos espinhos

Que me rodeavam o corpo.

Engoli o vento, tornei-me feroz

E em grande medida, arredia.

Selvagem alma dançando pra lua,

Na luta entre o ser e o silêncio.

Desrespeitei meus ciclos.

Quis ser linha reta e fixa.

Mirei no horizonte sem perspectivas.

Não faltavam sonhos.

Faltavam respiros.

O sentido do amor. O arrepio.

A coragem da entrega.

O âmago despido e exposto.

Faltava-me o desprendimento do outono.

A revolução arrebatadora.

Faltava o corte na carne

E o sangue jorrando

Pra que eu percebesse o tudo:

Sou de paixões.

E (sobre) viver estava me matando.

Faltava-me ser ventania.

Viver.




segunda-feira, 8 de março de 2021

Presença

 




Há quem sofra de ausências.

O remoer do vazio,

O cheiro do nada,

O hálito do silêncio.

Já eu sofro de presenças.

Aquelas que me habitam

Mesmo tendo distâncias como marca.

E, se me habitam, me preenchem

Trazem seu cheiro de café,

Sua leveza em forma de sorriso,

A pausa que o universo faz

Ao morrer e renascer em cada instante.

Sofro, então, de sua presença

Que tão profundamente me envolve

E, ainda que distante, me afaga,

Ensinando-me novos ritmos.


sexta-feira, 5 de março de 2021

Sem controle

 




Eu que sou de correrias,

Que acordo em euforia...

Eu que trovejo ao meio-dia

E danço na chuva à tardezinha...

Eu que nunca fui de paradas,

Nunca fui de pousar,

Nunca encontrei o motivo da chegada

E, até então, gostava mais das partidas

E era acostumada aos adeuses...

Eu que nunca perdia o controle...

Aprendi, de repente, a olhar devagar.

A desacelerar o tempo.

A querer ficar.

Onde foi que eu perdi o controle?

Quem souber, avise, 

Que não volto lá pra buscar.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Sóis e Cores

 




Até ontem, inverno.

Anoitecida, apenumbrada.

Um tanto de ventania.

Outro tanto de agonia.

Amanhecendo, despertei.

Uma gelereira inteira

Derretendo sob teus olhos.

Aprimaverando, colorindo.

Um tanto de flores.

Outro tanto de céus abertos.

Bendito o calor de tuas mãos

Que derreteu-me e tirou meu chão.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Bruxa do Espelho

 




Chamaram-me bruxa.

Desejaram-me a forca, o fogo, o ordálio.

Tempos outros, assustadores, severos.

Não lembro quantas vidas tive

Tampouco em quantas queimei,

Mas, entre os escombros dos séculos sobrevivi.

Chamaram-me louca.

Prenderam-me. Esconderam-me

Enclausurada cantei para as sombras.

Fui livre dentro de mim.

Mulher! 

Concebida tantas vezes com o mesmo sexo

A sina. A raiz. A força de (r)existir.

Dizem ser azar

Ter tantas vidas femininas,

Mas atravessam-me tantas sortes

Que os azares pouco importam.

E se o espelho quebrar?

Ganho novos reflexos.




terça-feira, 2 de março de 2021

Paradoxo da Criação

 





Eis que já havia um pouco de tudo.

De caminho, conto, ponto de encontro.

De espera, cansaço, beleza.

Eis que era como se o mundo pedisse pra ser escrito.

Ser transformado no medo que antecede a gênese:

No espanto da criação.

A boca aberta, surpresa que antecede o ato.

E antes da escrita, a cegueira infinita

De quem desconhece tudo.

Paradoxo do artesão:

Querer fazer sem saber começar.

A explosão do início.

A invenção.

Não é pela luz que se enxerga

É pelo poder da imaginação.




segunda-feira, 1 de março de 2021

Perigos

 



São muitos os perigos

Quando se deseja mais que um instante.

Quando deseja vestir-se de céu.

Quando descobre-se o que pode ser.

Quando a vida inteira cabe num poema.


A velocidade do pensamento,

A queda iminente, o querer-ter

E saber o risco do ter,

Do verbo doído que lembra:

Nada se possui.


Experimento uma eternidade sazonal

Que habita em meus braços

Que deseja seus espaços

Que se perde em casa

E se acha em um acaso qualquer.


E, se for de acasos, que seja:

Os caminhos se cruzam

As histórias se tecem

As mãos se entrelaçam

O risco se esquece.


domingo, 28 de fevereiro de 2021

Invernos e verões

 



Já era entardecida quando chegou,

Na lua minguante da vida,

Quando as horas se preenchem em si.

(Quando as noites são todas iguais.)

Já era antiga no tempo em que nasci:

Amarelada folha de verso longínquo,

Esquecida em berma de Caminho Novo.

Um ente pairando nos dias

Como quem espera sem saber.

Era preciso ser mais para que me alcançasse:

Ser pouco mais que a vertigem dos inícios.

Ter a coragem de encarar um incêndio

E partilhar das chamas  (despertas).

Já era brasa recolhida em inverno

Mas, soube-me (ver) bem além:  

Tinha vocações de verão.

Da vida pouco se sabe.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Brechas e Ruídos

 




Brechas se abrem em meus ouvidos

E ruídos passageiros entram.

Ocupam as vias de meus pensamentos.

Onde o futuro lateja, o passado ainda uiva.

São nas madrugadas longas e frias 

Que eles habitam e se mostram,

Agora, acordados pelos ruídos roucos.

Sob efeito da imaginação caço a todos.

Calo as memórias ansiosas: é fogo cruzado

E vou deixar o mundo todo queimar.

Serei o raio e o trovão que arde e assombra.

Primeiro em mim, espantado os ruídos,

Contemplando os silêncios,

Fechando as brechas.

Depois, pelo lado de fora

Onde ninguém percebe o caos.

A poeta esconde bem os restos turbulentos 

Do que foi seu medo real.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

(In) consciente Movimento

 



Quantas vezes eu a quis matar?

Sufoca-la em minha garganta,

Ver suas migalhas pelo chão...

Não é de hoje que a poesia me cansa

Com sua beleza que me dói,

Com seus sentimentos que desconheço.

Corro de suas palavras, 

Mas suas vozes não me abandonam

E, por mais que eu desista, ela me habita

E tudo o que ela me pede é vida.

É que eu me permita parir seus amores.

Que me talhem as veias:

Preciso ser escrita pela poesia.

Essa que me grita aos ouvidos.

Essa que me consome e alimenta.

Essa que me traz alento e faz seguir.

Essa a quem já quis matar e acolho

Porque é tudo o que sou:

(In)consciente movimento.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Porquês

 



Por que escrevo?

Porque as palavras me assombram.

Porque me espantam sua capacidade de traduzirem sentimentos.

Em mim cabem todas as palavras do mundo.

E todas são tão parte de mim quanto o que desconheço.

E, entre todas, o amor.

Esse que me soa como uma fratura,

Algo que temo pela dor que pode vir.

Mas, que não busco bem evito: espero.

Posto que é chama 

E gosto de incêndios.

E quando ele, o amor, chegar...

Oxalá, soe-me como liberdade:

Da entrega ao caminhar.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Tempo-mar

 



Não se tratam dos tempos dos relógios,

Dos calendários desfolhados,

De quantas voltas deu ao mundo.

As idades sempre mentem em si mesmas:

Nunca revelam as almas,

Nem as esperas, nem os desejos.

Tratam-se dos céus que observou,

Das luas que lhe inspiraram

E de quão acordados seus olhos estavam

No instante exato da chegada do sonho.

Trata-se do momento em que se transborda

E toda margem é pouca

Porque o rio da vida desperta

E segue pelo tempo-mar:

Navegar... 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O que não digo

 




Talvez eu lhe escreva um tanto de coisas

Ou deixe as palavras por dizer.

Afinal, dia desses, de soslaio

Ouvi que o meu silêncio também fala.

Talvez eu cante ao seu ouvido

Qualquer coisa entre Belchior,

Vinícius, Caetano, Chico.

Talvez você entenda o que quiser,

Linhas, entrelinhas, revelações.

Eu, por aqui, ainda meço os passos,

As horas e as saudades

E as sussurro nas madrugadas.

Quando me ouvir, venha.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Rotina

 



É curioso como mas madrugadas,

De olhos fechados,

Só duas coisas me vêm aos ouvidos:

Seu nome e Poesias.


Escrevo todos os dias

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Animais

 





Somos dois animais

Dóceis à luz do dia,

Amansados pela palavra,

Com as almas dormentes,

Preguiçosas, estiradas sob o sol.

Mas, a transformação é púrpura

E ocorre em nosso entardecer.

Somos dois animais

Selvagens e noturnos,

Insaciáveis no encontro,

Sedentos de lua e suor.

Qual de nós consumirá o outro?


sábado, 20 de fevereiro de 2021

So(m)bras

 




Ensinou-me, sobretudo, profundidades:

Do riso ao abismo.

Mesmo quando hasteei a bandeira da paz

Mordia-me os sonhos

E os atirou aos meus pés.

Reduziu à loucura o que era amor.

Meu peito-manicômio se (de)bateu

E de tanto chorar adormeceu.

Ainda lhe vejo, mas, agora

É só a so(m)bra do que amei.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Ao Senhor das Estradas

 




Era um dia comprido e cansado

Desses de véspera.

De tanto caminhar,

Sentei à beira, na poeira, 

Com pés a desenhar mais que nadas.

E era a beira de sua estrada.

E eu era agora um tanto tímida,

Um tanto espera:

Não que seja habituada a invasões de terras,

Mas, às sombras de um pé-de-verso,

Árvore frondosa como no paraíso,

Encontrei uma  semente querendo florescer

Escrevo-lhe, senhor da estrada,

Com muita vontade  e pouca fé:

Deixa-me aqui a colher sua poesia

Desfolhada no outono alaranjado

Por elas sorrio e amanheço 

As noites que tenho em mim.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Versos de Presente

 





Na falta do presente

Que se abre pela ponta dos dedos

Desfazendo embrulhos de seda e fitas,

Cabe-lhe um sobressalto de empréstimo:

Pego, aqui e ali, palavras bobas,

Outras tontas de vinho,

E organizo com dedicada ordem.

Mentira! Eu sou uma desordem!

Que seja!

Pois, que pego palavras que não são minhas,

E juro que agora são suas.

Presente tolo de quem passa horas entre margens

E não sabe o que poderia ser de valor

Eis que oferto desejos:

De luzes e festas, saúdes e sonhos,

E tudo o mais que puder chamar de seu

Para que os novos dias valham a pena

Para que tenha força, coragem 

E conquiste um pedaço de céu.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Sobre o verso




As nuvens rasgadas anunciavam,

Inclementes, o dia vindouro:

Entre azuis e castanhos.

O café e o céu.

Contrastes.

Um tanto de verde, janela, livro.

Outro tanto de cheiro, preguiça, folia.

Lá fora, a rotina, o tempo, o ritmo 

Aqui dentro descompasso e harmonia:

Não há outro recurso para a escrita.

Desde o início dos tempos,

Desde que a tinta se fez compreendida,

Só os absurdos dão sentido à poesia.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Sobretudo e café

 





Os olhos embaçados

A boca quase seca

O corpo curvado

Calo tudo o que eu gostaria de ouvir

E como resposta demorada

Engulo seus silêncios

Com café preto e forte

Dentro de um sobretudo.

Nada temos

Nada nos falta

Mas é esse silêncio

Sobre tudo e nada

Que arrasta as horas da saudade

E eu me pergunto:

Como é possível isso existir?

E adomeço inquieta

Ainda sem saber se o tenho

Ou se o invento.



sábado, 2 de janeiro de 2021

Arranhões

 





Noite a dentro,

O que tenho são miragens.

Escrevo pelas paredes,

Rabisco os papéis:

Arranho minha existência

Na casca dos dias.

Deixo pelo ar a minha poesia.

Arranhões no tempo.

Cicatrizes minhas.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Ontens

 



Num desses ontens descontentes,

Que sequer marquei no calendário,

Houve um tanto de você 

Espalhado pelos cantos

Dos meus olhos cansados.

Eu não sei bem se adormeci 

No embalo da noite

Ou embrulhada em suas lembranças.

Num desses ontens eu quis te escrever

Mas não tinha palavras suficientes

Às vezes, por alguns dias a gente seca

E, em outros, a gente só chove.

Hoje o dia está nublado.