Visitas da Dy

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Grimório

 




Que fique claro que meu amor é de profundezas.

Que ele é reservado e intenso

Como um vulcão que finge dormência.

Que fique claro que gosto de mergulhos em imensidões,

Que sou grimório que se abre 

A tudo aquilo que me desperta, 

Que me toca, que me faz querer voar.

Que fique claro que sei brilhar quando estou nas sombras,

Que sou feita de incêndios,

Que há segredos em meu ventre

Que só a dança sagrada dos corpos revela.

Que fique claro que sou de entregas,

De alma rasgada e lavada,

De passos firmes, rápidos e de ventanias.

Que fique claro que meus olhos brincam pela madrugada,

Que minha língua sabe causar arrepios,

Que tenho silêncios ensurdecedores,

Que a arte antiga corre em minhas veias,

Que aprendi a chamar a tempestade

E fazer despencar dos céus, os raios,

Mas que prefiro o movimento do tempo:

Pouca espera, muita revolução.

Sou de impulsos, mas sei a hora de me concentrar.

 


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Jantar

 





Quero servir o jantar

Fora de hora,

A qualquer hora,

Sempre que seus olhos famintos

Quiserem se alimentar.

Quero, antes a sua fome,

Ante meu corpo, comida,

 Para ser um misto de quase saciedade. 

Quero o desejo pelo sabor aflorado,

Dedos lambuzados,

Línguas cheias de meu tempero 

Que lhe invade a boca.

Quero o prato esvaziado

 E a vontade atrevida

A dizer: "quero mais comida!"

Quero lhe ver repetir o prato

 E saber qual é a sua especiaria preferida

Se for a pimenta,

Saiba que já sei arder.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Os olhos do deserto

 




Os olhos do deserto observam as danças que atravessam os tempos, que trazem em si a essência das tradições, a companhia das fogueiras noturnas, as paisagens incandecidas do próprio deserto, que, por vezes, nos assustam por nos convidar à solidão e, por outras vezes, nos encantam com a sua grandiosidade e magnitude.

É preciso ter a força de milhares de anos dentro de si para conhecer a quietude da alma.

É preciso queimar sob mil sóis para dar valor à sombra e à água fresca.

É preciso ter um ímpeto de milhares de almas sucumbidas sob o céu para sonhar com novas vidas. 

É preciso saber lidar com as melancolias, com as tempestades, com as solidões e com as noites de festejos. 

É preciso saber que lá no horizonte do deserto temos pedra e espanto, temos silêncios e vertigens, mas temos uma alma da terra, repleta de sabedoria que se expande cada vez mais e se move ao longo do tempo promovendo a dança das horas e dos corpos ao longo da vida.

Todos nós já atravessamos desertos e eles também nos atravessam, mas quando fazemos essa travessia com boa companhia, dançamos à luz da lua, em volta da fogueira, nas sombras das tamareiras, compreendemos as fases da vida!

domingo, 18 de dezembro de 2022

Dança Sagrada

 



Eu queria acreditar em um deus.

Queria ter certeza que há um ser divino que me rege e que Maktub! Tudo isso já estava escrito.

Eu realmente queria acreditar que tenho uma luz sagrada que me envolve e expande e se mistura a outras tantas, de outras tantas pessoas.

Acredito muito no que vejo, no que sinto, no que toco. E acredito na beleza. Acredito na arte. Acredito que de alguma forma a arte desce sobre mim e me permite instantes mágicos. A arte é sagrada. A mais refinada das deusas. Sendo assim, acho que acredito em um deus. E acredito em sinais, destinos, vidas passadas, vidas futuras e em tudo isso eu vislumbro a arte!

sábado, 17 de dezembro de 2022

Mandalas em Movimento

 


(Texto para o espetáculo MANDALAS, do Studio Tablado Árabe Nabak, em 17/12/2022)



A primeira história tem a idade do primeiro movimento do mundo. 

Antes de toda palavra escrita a história já existia.

Nós já contávamos as nossas histórias com nossos corpos e tudo começa na infância.

A infância é o círculo inicial de toda a vida. Tecemos, ainda jovens, os nossos círculos de afeto: os familiares, as amizades, os amores, os nossos vínculos mais profundos.

Giramos em torno do que mais amamos. Dançamos nos círculos do mundo que criamos através de nossos sonhos, de nossas experiências, de nossos impulsos e reflexões.

Somos energia de criação. 

Somos energia pulsante e nesse círculo da vida formamos mandalas de saberes, de histórias, de alergias e de tristezas, de crescimento e evolução. 

Passamos por diversas formações e cá estamos: ora ao centro, ora às margens, mas sempre rodeados de amor e vida.

Partimos de um ponto único: a terra. Voltaremos ao mesmo ponto: a terra. 

Movemos um grande círculo de tempo e as mandalas são as danças desse tempo ao longo de nossas vidas.

Hoje, contamos nossa história através do corpo, através do movimento, através da dança e de sua beleza, de suas amplitudes.

Hoje, contamos a nossa história com a dança através dos círculos. 

Hoje somos mandalas em movimento.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Vibrações




Vibre o amor!
Pulse a vida!
Entregue seus pés ao caminho 
E siga!
Não procure por nada.
Aceite tudo que o destino lhe der.
Respire fundo!
Seja persistente
(até lhe chamarem de teimoso)!
Seja corajoso!
No fim, você vai perceber 
Que toda sua energia positiva 
Já era tudo que você precisava 
Porque através dela, da sua força, da sua vibração,
É que vai surgir o amor...
E você não precisa procurar...
Ele vai te encontrar!
Ele vai chegar quando for a hora certa 
E quando você estiver pronto para ele.
Haverá uma explosão de milhões de partículas
E você terá certeza de que fomos feitos de amor,
Para o amor. E ele sempre chega!


quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Vontades de amanhecer

 



De tanto beber o tempo, se amansava.

De tanto caminhar, estava dormente.

Subia-lhe uma falta de esperança

Que aniquilava a alma

E adormecia o coração:

A cada silêncio, um novo deserto.

E, desatenta aos sinais, parecia flutuar

Entre suas vontades de amanhecer em lençois,

De acordar naqueles braços.

Até ontem era só certezas.

Agora, entrega-se.

Sente muito

E quer um porto seguro pra adormecer.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Noturna II

 



É sobre essa vontade

De saber seu cheiro,

De folhear seus livros,

De me amansar em seu peito.

Eu que sou tempestades,

Que me dizem selvagem,

Dormiria em seus braços

E aceitaria o amanhecer,

Mesmo sendo noturna.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Fogo Ancestral

 


Talvez fosse só isso:

Vozes que me habitam,

Repetindo profecias:

As palavras mais belas (me) libertam,

Curam e acendem.

Estou em brasas desde séculos passados

E o fogo nunca cessa.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Cargas

 




Caminhos... caminhos e pesos e cargas.

Carreguei uma bagagem pesada

Curei dores, abandonei amores,

Senti espinhos na carne 

Feri mãos que ousaram me tocar.

Venho carregada de marcas,

 Venho repleta de sombras,

Mas não lhe soterrarei com meus fardos.

Ofereço-lhe meu par de asas .

Aceita minha leveza!

Demorei muitas luvas para criá-la.

Atravessei muitos sós para me libertar.

Receba em suas mãos meu corpo cansado.

Faça-me um afago

 E cante uma canção

 Às vezes, só preciso de dois dedos de prosa

 E de adormecerem seu peito

Onde me esqueço da solidão

domingo, 11 de dezembro de 2022

Abraço da Ventania

 



O braço da ventania se alongou

E me abraçou forte.

Envolveu-me com sua força, entre suas rajadas,

Levantou levemente a minha saia

Bagunçou completamente os meus cabelos.

O braço da ventania passou sua lufada em minha cintura

Convidou-me a pagar pelos quatro cantos do mundo

 Fazendo a curva muito além da próxima esquina

Visitando os confins de além e muito mais.

O braço da ventania trouxe a sua energia

 E me disse em sussurros no ouvido:

Sua alma é um vento! Voa, menina!

(Eu soube ali que era de ventanias.

Eu soube ali que era de movimentos.)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Exposição

 




(Dy Eiterer, em 02/12/22, para Ticha Mourão)


Eu vi uma ideia nascendo,

parada no meio da tarde, 

Entre rabiscos, entre palavras.

Um monte de ideias soltas,

Várias mentes fervilhantes, borbulhantes. 

Eu vi uma ideia nascendo, eu vi uma ideia tomando forma,

Se transformando em palavras,

Se transformando em recortes,

Se transformando em caminhos de saberes,

Mas, ao mesmo tempo, labirintos de fazeres:

Qual o próximo passo? 

Como realizar tudo isso que a alma sonha,

Mas as mãos não sabem construir?

Ah, mas há mãos que se encontram...

Há mãos que constroem! 

Eu vi uma ideia se transformando, 

Ganhando forma, ganhando beleza,

Sendo um caminho percorrido pelos olhos

 E não apenas pelos pés. 

Eu vi uma ideia se transformando em realidade, Em história, em vida.

Tudo aquilo que é sonhado com almas caprichosas

(e disponíveis a fazer)

Se torna material, 

Encanta quem acompanha a sua transformação e criação.

Eu vi uma ideia se transformar em arte!