Visitas da Dy

sábado, 16 de julho de 2022

Palavras cruzadas

 



Sobre o que se debruça, moço?

Que há nesse canto que prende seu pranto,

Inunda seus olhos e esconde sua voz?

Bem sei que a vida não para,

Que é grande a labuta,

Desertos caminhos,

Mas, se há ferida, há cura.

Se achegue aqui, ganhe um dengo

Adormeça em meu peito

E me faça poema:

Sou palavra cruzada nos dedos de sua mão.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Em que momento?

 








Quando foi que seus olhos

(Atentos ou famintos)

Capturaram minhas cores,

Meus gestos, meus cheiros e gostos?

Quando pousaram sobre mim as suas fantasias?

Certamente, eu dançava distraída

Ou escrevia versos de amor desconhecido.

Certamente eu sonhava em vermelhos

Ou ventava poesia ao meio-dia.

Agora quero me diga:

Em que momento invadi seus pensamentos?

Ouso ficar ou desapareço?

Devo romper barreiras ou seguir estanque?

Em que momento deixarei de ser sonho?


quinta-feira, 14 de julho de 2022

Do despertar entre irmãs

 




Estou farta de semideuses

De regras de beleza, padrões,

Posições. Com-pe-ti-ções.

É que ser mulher não é fácil.

É que ser mulher é um parir-se diário

E, claro, recriar-se, desdobrar-se.

E digo isso para as que nasceram mulheres,

Para as que se tornaram mulheres,

Para os que respeitam e honram as mulheres:

É preciso ser de luta, estar atentas e fortes

Para dobrar as esquinas assombradas de preconceito,

Para trilhar os desafios e as armadilhas.

Estou farta de armaduras e de matar um leão por dia

Sozinha. Julgada. Rotulada.

Estou farta de ser calada,

Marginalizada, assediada.

Estou farta da violência

Que já parece tão fascinante

Em dias de feira, normais.

Estou farta de ser podada

E decidi revidar da forma mais visceral

Da forma mais genuína e forte que posso:

Vou resistir pelo amor e pela arte

Num convite sincero e aberto:

Sororidade.

Precisamos de união, de compaixão.

Precisamos enxergar que somos mulheres:

Centelhas divinas da criação

Mãos escritoras de histórias

A delicadeza e a força da vida.

Somos irmãs.


quarta-feira, 13 de julho de 2022

Orquídeas

 



Cuidei das orquídeas, mudas.

Elas e eu.

Um silêncio de encantar olhares,

De sentir perfumes.

Inebriante como o calor dos cafés

Que tomei em suas xícaras

E que aceleraram meu peito,

Meus pensamentos e desejos.

Cuidei das orquídeas

Colhi poemas

Bebi um vinho

Ouvi sua voz

Onde está?


terça-feira, 12 de julho de 2022

Fotografia do presente

 





Sua alma não ficou presa.

Não foi sequestrada pela fotografia.

Mas registrei sua imagem em minha retina

E ela não se desprende,

Não se desfaz,

Não sai de meus pensamentos.

Sua voz não ficou gravada.

Não há uma canção ou poema.

Mas tenho cada palavra dita

Ecoando em meus ouvidos,

Morando no canto de meu sorriso,

Trazendo de volta meus arrepios.

Seu corpo não está junto ao meu.

Nem seus braços me enlaçam

Nem a lua encheu. 

Só o céu choveu.

Mas eu guardo versos

E sussurros para lhe dar.

Um bocado de amor e vinho.

É só vir buscar.


segunda-feira, 11 de julho de 2022

Dos Silêncios que Recolhi

 






Quando estou aqui,

Pensando

Em tudo o que restou

Olho os versos que lhe escrevi

E não sei aonde irão parar...

São minhas formas entre as suas mãos,

São os beijos que lhe derramei,

São os planos de papel, em vão,

Resumidos nos silêncios que eu recolhi

Ah, coração, não se perca por aí

Nas voltas que o mundo dá

Lembre-se que durante a noite o sonho vem

E amanhã uma a outra história vai surgir 

Ah, coração, então me deixe por aqui

Sossegada

Ouvindo uma canção de amor

Feita com os silêncios que eu recolhi 

domingo, 10 de julho de 2022

Quase nada

 



Estou nesse mundo desvalida

Sem ter nada mais do que palavras.

Andarilha dos ventos, caminhante...

Não busco em seu peito morada

Nem refúgio eterno.

Sou das temporalidades:

Acolha-me o quanto puder.

Ofereça-me o que quiser:

Breve é meu repouso.

De duradouro só tenho meus versos:

Deixe-os invadir seus ouvidos,

Arrepiar sua pele.

Prometo não levar muito:

Contento-me com as lembranças.

sábado, 9 de julho de 2022

Sorriso Lunar





Ainda que faltassem janelas,

O dia findava

E a pintura celeste misturava azuis e dourados

Talvez o vento soprasse lá fora

Talvez a noite tivesse a cor dos meus olhos

E como eu, a lua crescente sorria.


sexta-feira, 8 de julho de 2022

Silêncios pelos dias

 



Ainda ontem foi seu silêncio

Que invadiu a cama

E me deu bom dia.

Ele quem trouxe o café,

Acompanhou as notícias,

E me fez companhia até adormecer.

O silêncio veio para a refeição.

Era fora de hora,

Eu estava perdida e confusa

E o silêncio cadenciava as horas.

Ele ficou ao meu lado 

Até que a tarde caísse,

Até que a noite se instalasse

E foi, de novo, comigo para a cama.

Ao meu lado, o silêncio cantava.

Afagava meus sentimentos

E me mostrava outra linguagem.

Desde então, não sei por quem espero

Mas, ainda que se atrase,

Seu silêncio vem.


quinta-feira, 7 de julho de 2022

Dona

 



É ela que ecoa vozes mil

Dos ontens passados,

Das mães e avós,

Luzindo suas coroas prateadas

Suas sabedorias enrizadas.

É ela que recebe de herança 

A cor da resistência e esperança

E o sangue jorrado inspira:

É guerreira de todos os dias.

É ela, das vozes de hoje,

Que ocupa todos os espaços

Que firma seu lugar

Que sabe o que quer

E, sendo solar, 

Brilha mais que o sol

É ela que chega e domina

Com graça e amor

Com ternura e paixão.


quarta-feira, 6 de julho de 2022

Netuno

 




Distante e azul e frio

Rege meus abstratos sentimentos

De tristezas e agonias.

Entrego-me inerte e lenta:

Cai noite dessas, só.

Só entre desejos e planos

E agora temo azuis

Como se fossem monstros no armário

E busco suas mãos para a salvação

E busco suas mãos para agitar meu corpo:

Netuno sabe movimentar as ondas

E eu sei lidar com arrepios

Só isso deveria bastar

A despeito do sistema solar.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Sonho-turbilhão

 





Encruzilhadas, caminhos,

Beijos, pensamentos, olhares.

Estou deitada sobre meus cacos:

Tudo dói, nada é real.

Perdi o momento em que perdi seus olhos.

Perdi meus olhos sonhando você.

Estava acordada e imensa,

Intensa e profunda.

Desejo o desapego

(Ansiosa, bebo desespero)

Quero-o tudo e não consigo dizer nada

É um turbilhão:

Tenho medo de acordar 

Mas, não estou dormindo.

Quero-o entre minhas mãos,

Mas receio que pretenda voar.

Estou deitada sobre meus cacos:

E, por isso, tenho ganas de chorar.