Visitas da Dy

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Águas de Novembro

 



Talvez, sejam seus impulsos elétricos 

que percorrem os céus e as minhas veias,

que me atraem tanto.

Talvez, sejam os seus gritos roucos rasgando os céus,

chegando até o chão, estremecendo as almas. Talvez, seja essa cor escura que você carrega dentro de si 

para depois se abrir e revelar o céu claro.

Talvez, seja toda essa energia junta, 

de modificação, de força, de movimentação, 

que faz com que eu me apegue cada vez mais 

às paisagens de tempestades.

Talvez, seja porque somos muito parecidas: elétricas e selvagens.

Naturalmente indomáveis.

Talvez, seja porque somos filhas da natureza 

e assim nos atraímos.

Vejo a tempestade e penso na dança do tempo.

Penso na força ancestral 

e logo me imagino parte de um mundo 

que guarda em si mesmo tantas vidas 

quanto as gotas que caem nessa tempestade.

Sou, como elas, incontável.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Cores de tela

 



Eis que carrego, sim, olhos de desejo

Olhos que secretamente desejam (o tudo)

Um corpo, um sonho, um cheiro.

Invento que me reconheço.

Invento que me encontro em poemas esvoaçantes,

Que me desfaço ao inverso

Porque não caibo entre suas mãos.

Eis que faço-me em penumbras,

Divertindo-me nas sombras

Porque o sol de teus olhos não me alcança.

Contento-me com o sussurro imaginado de sua voz:

Embriagando meus ouvidos.

Contento-me desperdiçando calores e sabores,

Desperdiçando vinhos e (li)cores

Que não enchem sua taça

 Nem chegam ao seu paladar

Até quando?

Até quando seremos apenas vultos?

Desejo cores, 

por mais que o veja preto e branco.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Ruas de Evora

 




(Évora, janeiro de 2016)

Dy Eiterer 


Sussuram os ventos seus contos antigos.

São orações sagradas.

Guiam-me os passos, o vento.

São danças sagradas.

Encontro-me no cruzamento de tempos

Sou a que se reconhece no passado

E a que se reflete no futuro.

No agora, sou paixão, entrega, fogo.

Sou efervescências e calmarias

Aquela deusa dos milagres de todo dia

O sagrado impulso da vida

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Sempre menina

 


(Dy Eiterer, em 11 novembro de 2022, para Raquel Silveira)


Acho que eu sempre te vi menina.

Dessas que nunca crescem, 

mas que amadurecem desde pequenas.

Dessas que trazem uma leveza de fada, 

uma doçura de mel 

e uma sabedoria de outros tempos.

Acho que eu sempre te vi pequena e gigante: com uma voz delicada e firme, 

com uma paz emanando 

mesmo quando há um turbilhão.

Acho que vai ser sempre essa menina acompanhada de luz, 

de muitas cores, 

mas que combina com o branco dos lírios 

e com o som dourado de snujs.


Feliz aniversário, Raquelzinha!

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Vestes

 




Deitei-me ao solo como um rio

 Corria solta e meus pensamentos.

Fazia-me cachoeira de desejos

E desejava banhar-lhe de paixão.

 Das minhas paixões todas:

 Do domingo entardecido

As noites mais vibrantes.

Eu, rio, transbordava amor

Você, margem, tinha-me nas mãos

Eu, ninfa, escolhia muito bem as vestes

 De vento, transparentes e úmidas

Avermelhadas de pores do sol.

Ainda ontem dancei sozinha,

Mas imaginava seus olhos sobre mim

E meu corpo repousava leve

Ao som da música e, diante de você,

 Minhas vestes desciam na correnteza,

 Deslizando pelo rio de meu corpo

Molhando-se de suor e sal.

domingo, 20 de novembro de 2022

A primeira sombra do tempo

 





Às vezes, pego-me sonhando com o desconhecido,

Com aquele que, um dia, há de chegar

Para cavalgar comigo, selvagem, 

Um tanto de meus desertos interiores.

Noturna, pego-me às margens de seus olhos,

Escuros como o oceano quando recebe a madrugada,

Convidando-me a mergulhar.

Desconheço o perigo deles.

Desconheço o medo de me jogar.

Sou atraída por essas profundidades.

Pergunto-me se esses olhos existem,

Se me reconhecerão como sua,

Se pousarão sobre meu corpo 

(Como se eu fosse uma escultura a se admirar).

Às vezes, busco encontrar em todo canto do mundo,

O senhor de olhos negros e profundos, 

como a primeira sombra do tempo.

E tenho desejos de despir-me diante desses olhos

Para encara-los sem pudores,

Nua como a verdade,

Quente como foi a primeira tentação.

Corre em minhas veias a herança de Lilith

E esses olhos negros sobre mim

Lembram-me disso.