Quisera eu ter olhos de Capitu, tão bem desenhados, como se
fossem pela pena de um Machado ou pelo dedo caprichoso de Deus.
Quisera eu ter olhos tão admirados por um Bentinho devotado,
quiçá louco, tão louco que escrevia... que escrevia para lembrar e reviver.
Quisera eu ter nos olhos uma cor e uma doçura por alguém já
conhecidas, como a da amada da infância...
Quisera eu que os olhos fossem de ressaca, não da bebedeira, mas
que tragam, que envolvem, que afogam.
Quisera eu ter olhos de tempos passados, que trazem "não
sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como
a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca".
Quisera eu ter em meus olhos uma onda que saísse de mim, capaz
de entorpecer, encantar e assegurar que o tempo que passa é sinônimo de
eternidade em seu tic e de finutide em seu tac.
Quisera eu ter os olhos de cigana, oblíqua, não dissimulada, mas
que já viu desertos e dançou por eles, que verteu rios e aprendeu a rir mares.
Quisera eu ser Capitu e seus olhos. Quisera eu ter meu
Bentinho e seus deleites. Quisera eu ser um romance de Machado...
3 Comentários:
ou então apenas um Bentinho, dos tempos modernos, que ao invés de escrever seu nome no muro, escreva seu nome em seu coração...com sua presença e preocupação aos olhos que o admiram.
Pércio Pedra
não haveria de ter no mundo uma complementação mais real, Pércio!
já não se encontram Bentinhos pelo mundo. o que acho lamentável. como eu queria um bentinho... de machado ou de agora, que me prendesse sem amarras, que me trouxesse nos olhos e no coração, mas já não temos homens que saibam valorizar os olhos, o toque, o cheiro, a companhia. esses estão em falta.
invejo as capitus, as matildes, as pisiquês que tiveram a sorte de ser tão amadas que serviram de inspiração.
bendita a mulher que inspira um homem a escrevê-la em versos, mas mais ainda que a escreve em seu próprio coração.
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