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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Pedacinho de Amor




Naquela manhã o coração estava mais agitado que o de costume.
Poderia ser dia de rock, de pop, de jazz, mas era só um dia de aeroporto, passaporte e avião. Um dia de viagem quase comum, quase igual a todos. Quase. Não fosse a mudança de ares, de fuso, de continentes.
Era o dia em que toda bagagem experimentava três pesos e duas medidas: o seu peso comum, de objetos simples amontoados organizadamente, contabilizados em lista e em ordem de importância, resumindo na mala tudo o que não poderia faltar. O peso da espera, de areia de praia engarrafada em ampulheta, de sonhos antigos e guardados, cuidadosamente alimentados, aguardando o momento de tomarem corpo. O peso da ausência da pessoa-felicidade-que-completa, que não faz mais parte dos planos, embora tenha sido parte fundamental de outras tantas alegrias, que embalou esse momento, ajudando a embrulha-lo e que não estará lá nem para o embarque nem para o adeus (que já foi dado precocemente). Pesos justos, injustos, reais.
As medidas eram igualmente complexas e se misturavam. Um tanto já era saudade. Uma saudade companheira, de onde se vai. Outra saudade antecipada, de onde se sai, das histórias construídas, do lugar do qual se passou a fazer parte. Um verso e reverso doido, que só quem sente sabe. A outra era a esperança, essa penetra, que enche os espaços mesmo sem ser convidada, e fica, mesmo sem ser notada. Ela pouco se importa com convites. Ela pouco se importa com o que queremos. Simplesmente existe. E ponto.
Assim, marcadas pelas lembranças, de malas prontas, pegou o seu pedacinho de amor pela mão, entrou no táxi e foi para o aeroporto.

A criança se divertia com o passeio, olhando a paisagem pela janela do banco de trás do carro, enquanto a mãe tentava, firme, equilibrar-se entre os pesos e medidas de sua bagagem.

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