(Texto dedicado a Daufen Bach e Ivana Schafer, editores da REVISTA BIOGRAFIA)
As palavras que já não me cabem vão parar no papel.
Se não mancham o branco com tinta azul ou preta ou acinzentam o
imaculado com um grafite fino, ousam, ainda, escapulir pelas pontas dos dedos e
se transformam na lógica binária que em poucos cliques traduz-se nos meus
pensamentos iniciais.
Escrever é um pouco como forma de autossalvação. É um
desafogar-se de si mesma. É parir seres alados todas as noites: esses versos,
essas linhas...
Escrever é tornar-se mais livre e mais prisioneiro de si e das
próprias palavras. É como colocar-se detrás de um espelho: você sabe que parte
do reflexo é seu, mas outros olhos irão se refletir, se entregar e integrar suas
palavras.
Escrever é um exercício de ser e não ser. É quando escrevo o que
sinto, sinto o que escrevo ou apenas sinto com a imaginação, sem
necessariamente usar o coração. Decerto que há um muito de coração em cada
entrelinha, mas nem sempre os suspiros foram dados, o sangue derramado ou a
vida seguiu desenfreada por onde gostaria.
Escrever, às vezes, tem gosto de confissão. Uma mea culpa. Em outras vezes é espelho de
vaidade, dá muita vontade de saber-se lido. Em outras é vontade de ausência, de
abandonar-se. É vontade de perder-se nas linhas e de nunca mais se achar, mas
alguém vai lá e nos encontra. E nos chama de volta. E nos desembola daquele
misto de palavras nossas e letras mortas que não queríamos desapegar.
Há exatamente um ano faço da escrita minha companhia. Divido-me
em tantas outras. Algumas verdadeiras, outras nem tanto.
Em noites quentes sou de prosa, de aroma de rosas, de
sentimentos tênues, de calores avassaladores. Em dias cinzas sou melancolia,
desesperadamente angustiada na busca de cores para pintar os céus de um azul
vertiginoso. Em dias brancos, sou como o papel e me desfaço em tinta, em
letras, em desenhos, em poesia! Todo mundo tem seu dia de inspiração, seu dia
de abrir o peito e declamar aos quatro ventos a sua oração.
Há um ano fiz das letras o meu mar e naveguei para dentro de mim
e pela margem dos olhos de quem quisesse me ler.
Há um ano fiz das minhas palavras mais um porto: minha chegada e
partida, cuja rota passava não só pelos meus cadernos e canetas, mas pela rede
que permite infindáveis caminhos desconhecidos. Fiz de um blog uma válvula de
escape e de uma revista meus três ou quatro parágrafos de fama, prontos para
serem esquecidos no próximo clique.
Há um ano aprendi a gostar muito mais da arte de ser o que não
sou através das tantas palavras que ordeno em fileiras de sentidos para mim,
desfilando nexos nem sempre conexos para quem os lê.
Há um ano passei a integrar o grupo de colunistas da Revista
Biografia e dezenas de textos depois, ainda fico angustiada com o próximo post, com a aprovação ou não dos editores.
Há um ano eu, que só queria brincar com as palavras, faço delas minha séria
diversão.
Há um ano eu só tenho a agradecer a cada novo texto o carinho
que recebo de quem o lê, a dedicação e paciência dos editores da Revista
Biografia e a gentileza e generosidade de todos que me escrevem de volta, dando
suas impressões sobre as minhas linhas.
Há um ano, todas as semanas eu realizo um sonho antigo de
brincar com as palavras sem maiores pretensões, deixando-as sair quase livres
às pontas de meus dedos, inundadas de sentimentos sentidos ou inventados, mas
sinceros.
1 Comentários:
Olá Dy!
(emocionado com a dedicatória)
Agradeço imensamente o teu carinho e tuas palavras! É um privilégio para nós, administradores da Revista Biografia e, também, leitores, poder ler semanalmente os teus textos. Saibas que és muito querida e respeitamos tanto a pessoa maravilhosa que és, quanto a autora que se supera em cada nova crônica, em cada novo artigo!
A Revista Biografia teve um ano espetacular, foram mais de um milhão de visitas, milhares de seguidores e alcançamos um grande número de países, em todos os continentes, e isso só foi possível graças ao empenho de todos que fazem parte dessa grande "família" que trabalha em pró da produção e da divulgação da arte em geral... Você fez parte disso, teus textos contribuíram para que chegássemos nesse nível de qualidade e abrangência e, somos nós que te agradecemos por isso! Que 2014 possamos continuar essa parceria e dobrar os nossos números! Risos.
Um grande e terno abraço minha querida!
Daufen Bach.
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