(para ler ouvindo "Epilation en do Mineur")
Meu silêncio não me basta e seu silêncio me constrange. É dele
que surge um vão, aquele vão entre as nossas mãos, nossas vontades, nossos
sonhos. É por ele que nos rendemos à monotonia, ao que era pra ser dito e fica
preso na garganta, difícil de ser engolido.
É pelo seu silêncio, pelo meu silêncio que o segredo que era só
meu e um outro qualquer, que era só seu, vira nosso. É por ele que nos tornamos
mais frios e distantes, mais quietos e vacilantes. Rendemo-nos às bocas
caladas, a um desfile de dúvidas e de "talvez" que nos açoita em noites
insones.
Pelo silêncio que fazemos perdemos nossa suavidade, nossa doçura
sagrada de cada dia. Viramos expectadores de nossa vida, sem ações para mudar o
fim da história, se é que há história.
Deixamos nos levar pelos ritmos de buzinas no trânsito febril
das cidades que vivemos, que percorremos. Perdemos nossas direções pelas mãos
trêmulas que seguram quaisquer volantes. Perdemos nossos desejos de amantes de
nós mesmos e da vida.
Pensamos dançar um tango argentino em plena praça Paris, mas nos
sobrou apenas acordes soltos do que seria uma sonata.
Sonhamos voar com o arrebol, mas esquecemos de tirar nossos pés
do chão, de alimentar nossos sonhos com doses de coragem e já que perdemos a
noção da hora, acreditamos que junto com o tempo nós também passamos e nossas
vidas vamos levando em silêncio.
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