O que fazer quando chega o tempo de já não ir mais ao café, aos
bares, aos parques, à rua?
O que fazer quando o que parece restar é uma saudade do que
ainda está por vir que se baseia na saudade do que se passou e na vontade de
acelerar o tempo pra ver tudo dar certo, ainda que a certeza seja a partida?
Um café com cointreau
já perde seu sabor.
As folhas do outono parecem não parar de cair, por mais que seja
primavera lá fora. Parece que o inverno se instalou aqui no peito e que o verão
não vai chegar. Parece que vai sempre faltar uma andorinha, que foi voar mais
longe, mais alto.
No fim de tarde, um por do sol e as ondas batendo lá em baixo,
nas pedras. Aqui dentro o que bate é o tic-tac do relógio e seus passos
apressados rumo aos dias desconhecidos. No meio da tarde vem um gosto de medo,
porque temos a mania de temer o desconhecido. Porque temos medo de que ele, o
amanhã, não seja belo. Seria ele um filme ou uma aquarela, ah, esse futuro que
teima em não se revelar para nós antes de seu tempo... e esse seu tempo que
teima em não ser o mesmo que desejamos, que teima em ter a sua dinâmica
própria...
Ah, se já perdemos a última sessão, se não temos mais a menor
noção das horas, nos resta escolher uma canção, daquelas bem suaves, bem leves,
que tocam nas trilhas sonoras dos filmes, dos tantos que já vimos, dos tantos
que ainda vamos ver. Cantarolar essas canções fará o tempo parar, com sorte,
até voltar: nossos momentos desfilarão em nossos olhos como em flashs e virá o riso.
E quando voltar a acalmar o peito, quando o susto das idas e
vindas e dos passos em desalinho passar, voltaremos aos cafés, mas uma pergunta
ainda ficará: e a conta da saudade, quem é que paga?
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