Não é só por
amar o passado que me dedico à História. Seque há um desejo estar ou permanecer nele, mas de visita-lo. O que
há é um medo de jamais perceber que a vida é breve.
Não é por
achar que as grandes lutas ou as derrotas não contadas foram tão importantes
assim que passo meus dias a ler e a escrever e a tentar entender o que se
passou. É muito mais para compreender o que, de fato, me resta depois das
pelejas dessa vida que olho para trás.
Não é por
acreditar que as sábias decisões foram tomadas todas com certezas e em seus
momentos mais apropriados que me debruço para essa janela que olha para as
horas que já correram. É por saber que ando sempre na corda bamba, que temo
cair ao próximo passo e porque a ideia de mergulhar num abismo me assusta.
O que me faz
todos os dias lançar-me na busca de respostas na História é saber que as linhas
do tempo que são tecidas pelas fiandeiras das Moiras são frágeis, tão frágeis que
ao menor de todos os sopros elas se rompem e se embolam como a pipa nos fios.
Olho para o
passado porque é lá que vivo de certa forma, porque o presente nos escorre
pelos dedos e o futuro me chega tão veloz que só o reconheço quando já está ao
chão, com as areias que me escorreram pelas mãos.
Ajuntar-me
entre folhas amareladas, amassadas e escritas me dá a incrível sensação de ser
livro: já lido, em leitura, que vai repousar na estante de alguém que uma vez
gostou da sua história e vai voltar a lê-lo, vai tê-lo como seu preferido, vai
se enxergar nas linhas rabiscadas.
Perder-me nas
vielas do que se foi é andar em (des)caminhos maravilhosos, entre
possibilidades do que já foi e ainda estar por vir, porque é olhando o que já
aconteceu que posso prever, em certa medida, o que está por ser descortinado.
O que me
encanta é ter todos os dias as possibilidades de olhar a história e FAZER
HISTÓRIA! De escrever a minha própria, mas
de entender que posso fazer algo a mais, de ser melhor comigo, para mim e para
os outros.
Gosto de olhar
para o que passou porque à sua forma, esse tempo que me soa como perdido, alivia
a agonia que me dá de viver nesse presente em que não me encontro, nesse mundo
de incertezas onde resta-me a estranheza e uma vontade enorme de fugir pela
janela.
Uma angústia
invade meu coração cada vez que não me encontro, cada vez que me levanto e tenho
a impressão de que estou do lado errado da cama, mesmo sabendo que não há o
lado certo.
Os fantasmas
que estão no passado, sejam eles os meus próprios ou os criados pela História
me fazem companhia, especialmente em noites frias. Me guiam entre seus
emaranhados de aventuras e desventuras descritos pelos séculos, com desfechos
infindáveis e de interpretações diversas.
Gosto de
transitar entre a História que vivo, que ouço, que estudo, que faço. É a
garantia de que posso ao mesmo tempo ser criatura criadora e em constante
movimento.
Perco-me nos
redemoinhos do tempo porque é a única maneira que encontrei de me encontrar,
perdida nesse tempo-espaço-passado-presente que se constrói e reconstrói a todo
instante porque o passado é o único lugar em que temos a certeza de que
ficaremos, pois o presente se perde no instante em que se faz e o futuro tão
logo nos chega, já se vai...
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