Visitas da Dy

quarta-feira, 13 de junho de 2012

No passado




Não é só por amar o passado que me dedico à História. Seque há um desejo estar  ou permanecer nele, mas de visita-lo. O que há é um medo de jamais perceber que a vida é breve.
Não é por achar que as grandes lutas ou as derrotas não contadas foram tão importantes assim que passo meus dias a ler e a escrever e a tentar entender o que se passou. É muito mais para compreender o que, de fato, me resta depois das pelejas dessa vida que olho para trás.
Não é por acreditar que as sábias decisões foram tomadas todas com certezas e em seus momentos mais apropriados que me debruço para essa janela que olha para as horas que já correram. É por saber que ando sempre na corda bamba, que temo cair ao próximo passo e porque a ideia de mergulhar num abismo me assusta.
O que me faz todos os dias lançar-me na busca de respostas na História é saber que as linhas do tempo que são tecidas pelas fiandeiras das Moiras são frágeis, tão frágeis que ao menor de todos os sopros elas se rompem e se embolam como a pipa nos fios.
Olho para o passado porque é lá que vivo de certa forma, porque o presente nos escorre pelos dedos e o futuro me chega tão veloz que só o reconheço quando já está ao chão, com as areias que me escorreram pelas mãos.
Ajuntar-me entre folhas amareladas, amassadas e escritas me dá a incrível sensação de ser livro: já lido, em leitura, que vai repousar na estante de alguém que uma vez gostou da sua história e vai voltar a lê-lo, vai tê-lo como seu preferido, vai se enxergar nas linhas rabiscadas.
Perder-me nas vielas do que se foi é andar em (des)caminhos maravilhosos, entre possibilidades do que já foi e ainda estar por vir, porque é olhando o que já aconteceu que posso prever, em certa medida, o que está por ser descortinado.
O que me encanta é ter todos os dias as possibilidades de olhar a história e FAZER HISTÓRIA!  De escrever a minha própria, mas de entender que posso fazer algo a mais, de ser melhor comigo, para mim e para os outros.
Gosto de olhar para o que passou porque à sua forma, esse tempo que me soa como perdido, alivia a agonia que me dá de viver nesse presente em que não me encontro, nesse mundo de incertezas onde resta-me a estranheza e uma vontade enorme de fugir pela janela.
Uma angústia invade meu coração cada vez que não me encontro, cada vez que me levanto e tenho a impressão de que estou do lado errado da cama, mesmo sabendo que não há o lado certo.
Os fantasmas que estão no passado, sejam eles os meus próprios ou os criados pela História me fazem companhia, especialmente em noites frias. Me guiam entre seus emaranhados de aventuras e desventuras descritos pelos séculos, com desfechos infindáveis e de interpretações diversas.
Gosto de transitar entre a História que vivo, que ouço, que estudo, que faço. É a garantia de que posso ao mesmo tempo ser criatura criadora e em constante movimento.
Perco-me nos redemoinhos do tempo porque é a única maneira que encontrei de me encontrar, perdida nesse tempo-espaço-passado-presente que se constrói e reconstrói a todo instante porque o passado é o único lugar em que temos a certeza de que ficaremos, pois o presente se perde no instante em que se faz e o futuro tão logo nos chega, já se vai...

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