A dor de não tentar é bem maior
que a dor de fracassar. Só se sente isso quando o fio frio e afiado da faca do
destino te corta a carne e se vê o coração em frangalhos, exposto, sangrando.
Não se trata de exageros. Cada um sabe o tamanho da dor que sente. Sabe onde o
martelo lhe bate e onde apertam os sapatos.
As lágrimas que molham o rosto
fazem o mesmo percurso das gotas de chuva que tomamos enquanto éramos felizes.
Felizes na nossa ingenuidade, na nossa falta do que fazer numa tarde dessas em
que se quer só sair por aí e se perder por caminhos já trilhados ao lado de
quem já conhece mais os seus passos que os dela mesmo.
Sentar-se de frente para o mar e
ver que toda aquela infinidade de areia já lhe escorreu pelos dedos e que não
pode mais ser colocada dentro da ampulheta, numa tentativa desesperada de fazer
o tempo voltar é ao mesmo tempo triste, enlouquecedor e realista. Há muito de
realismo na dor.
Olhar para o céu e ver que essa
noite as estrelas não brilharam e que a lua preferiu se esconder entre nuvens
acinzentadas pra deixar a noite mais fria e vaga e negra traz aquela velha
sensação de pequenez, de alma vazia, de oco por dentro, que chega a queimar.
Quando o retrato na estante
deixa de ser o riso que faz o dia melhor pra ser parte de uma história não
escrita, o que parece é que se perdeu os dentes, a coragem de lutar, ou ainda
que se perdeu uma briga e ganhou só escoriações. Dá uma vontade enorme de
esquecer, por mais que saibamos que esses detalhes dolorosos não são esquecidos
e que se mantêm vivos o tempo todo, como brasas.
Quando se desiste de algo que
foi planejado e sonhado e acalentado ocorre um choque que nos anestesia, não se
sente nada de imediato. O efeito é posterior, vem ácido e em gostas
homeopáticas que escorrem pela garganta e dissolvem a voz, roubam as palavras e
já não há dicionários ou letras ou línguas capazes de conseguir expressar o que
se passa.
É só no momento em que se perde
o que nunca se teve que conseguimos perceber o quanto não damos importância aos
detalhes e o quanto eles poderiam ter mudado nossa história e nossos caminhos.
É só quando se dá uma guinada e caprichosamente se toma um rumo inesperado é
que se percebe como o destino, se é que esse existe, pode ser ardiloso e como
ele se diverte com nossas tragicomédias cotidianas.
Assistir ao jornal já é coisa
comum e nos acostumamos com o som das buzinas e saltos que atormentam nosso
sono no meio da noite. Vamos desaprendendo a pensar em nós mesmos e nos
apegamos em algo ou alguém que valha o nosso esforço pelo simples fato de termos
desistido de escrever nossa trajetória com giz no chão molhado pela chuva que
veio com o mês de março ou abril ou maio, já que o tempo passa a não fazer
diferença; ele passa por nós ocupado e a galope e não queremos e nem podemos
puxar seu freio. Ele é cavalo selvagem sem sela.
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