Visitas da Dy

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Constatações




A dor de não tentar é bem maior que a dor de fracassar. Só se sente isso quando o fio frio e afiado da faca do destino te corta a carne e se vê o coração em frangalhos, exposto, sangrando. Não se trata de exageros. Cada um sabe o tamanho da dor que sente. Sabe onde o martelo lhe bate e onde apertam os sapatos.
As lágrimas que molham o rosto fazem o mesmo percurso das gotas de chuva que tomamos enquanto éramos felizes. Felizes na nossa ingenuidade, na nossa falta do que fazer numa tarde dessas em que se quer só sair por aí e se perder por caminhos já trilhados ao lado de quem já conhece mais os seus passos que os dela mesmo.
Sentar-se de frente para o mar e ver que toda aquela infinidade de areia já lhe escorreu pelos dedos e que não pode mais ser colocada dentro da ampulheta, numa tentativa desesperada de fazer o tempo voltar é ao mesmo tempo triste, enlouquecedor e realista. Há muito de realismo na dor. 
Olhar para o céu e ver que essa noite as estrelas não brilharam e que a lua preferiu se esconder entre nuvens acinzentadas pra deixar a noite mais fria e vaga e negra traz aquela velha sensação de pequenez, de alma vazia, de oco por dentro, que chega a queimar.
Quando o retrato na estante deixa de ser o riso que faz o dia melhor pra ser parte de uma história não escrita, o que parece é que se perdeu os dentes, a coragem de lutar, ou ainda que se perdeu uma briga e ganhou só escoriações. Dá uma vontade enorme de esquecer, por mais que saibamos que esses detalhes dolorosos não são esquecidos e que se mantêm vivos o tempo todo, como brasas.
Quando se desiste de algo que foi planejado e sonhado e acalentado ocorre um choque que nos anestesia, não se sente nada de imediato. O efeito é posterior, vem ácido e em gostas homeopáticas que escorrem pela garganta e dissolvem a voz, roubam as palavras e já não há dicionários ou letras ou línguas capazes de conseguir expressar o que se passa.
É só no momento em que se perde o que nunca se teve que conseguimos perceber o quanto não damos importância aos detalhes e o quanto eles poderiam ter mudado nossa história e nossos caminhos. É só quando se dá uma guinada e caprichosamente se toma um rumo inesperado é que se percebe como o destino, se é que esse existe, pode ser ardiloso e como ele se diverte com nossas tragicomédias cotidianas.
Assistir ao jornal já é coisa comum e nos acostumamos com o som das buzinas e saltos que atormentam nosso sono no meio da noite. Vamos desaprendendo a pensar em nós mesmos e nos apegamos em algo ou alguém que valha o nosso esforço pelo simples fato de termos desistido de escrever nossa trajetória com giz no chão molhado pela chuva que veio com o mês de março ou abril ou maio, já que o tempo passa a não fazer diferença; ele passa por nós ocupado e a galope e não queremos e nem podemos puxar seu freio. Ele é cavalo selvagem sem sela.

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