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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cotas Raciais



Há quatro ou cinco dias, por unanimidade, foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal o Sistema de Cotas Raciais. Houve um furor sobre o assunto, especialmente na internet. Na TV eu não sei, não assisto TV. Poupo-me dos programas de humor sem graça e dos apresentadores clichês que se esparramam pelos canais.
Depois de ler um sem fim de artigo e de opiniões sobre o tema, voltei a esse texto que escrevi quando a questão ainda não havia tido um desfecho e ele versava sobre a minha contrariedade às cotas. Minha opinião não mudou.
Usam a “dívida histórica” para defender as cotas. Dizem que negros e índios não partem de um mesmo lugar para disputarem a vaga no vestibular. Apontam que o vestibular é um meio de elitizar as universidades, que peneiram os mais bem preparados e logo, os brancos filhos da elite ou da classe média emergente que cresce no país. Sou absolutamente a favor desses argumentos, mas não os aceito puros e simples como respostas nem para favorecer nem para contrariar o sistemas de cotas. A discussão precisa ir além.
O Brasil teve sua história marcada por uma monarquia escravista enquanto toda a América Latina já havia superado essa mão de obra. Após a abolição da escravidão, em 1888, não lançamos programas sociais que atendessem os negros e os inserissem na ordem do dia do sistema nacional. Por isso eles merecem tratamento diferenciado???
Nossos indígenas foram expropriados, usados como mão de obra nas missões em troca de uma catequização e de uma “civilidade” que não desejavam, eram os donos da terra e passaram a ser minoria em pouco tempo de ação dos bandeirantes portugueses e sua trupe. Por isso eles merecem tratamento diferenciado???
Temos uma constituição que rege nossa república e que nos coloca em pé de igualdade perante a lei. Isso deveria bastar. Colocar o negro e o índio em situação de diferença ao adotar o sistema de cotas é, ao meu ver, no mínimo, um absurdo, mas muito mais que isso, é o Estado assumir o seu papel de incompetência e de falta de vontade ao longo de todos esses anos, especialmente a partir de 1996, quando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), lei nº 9394/96, entrou em vigor.
Se somos iguais perante a lei por que a necessidade de se diferenciar os grupos para a entrada na universidade pública? Por que eu, filha de pais brancos, não terei o mesmo direito? É a cor de minha pele o fator que me deixa em condição de ser melhor ou pior que alguém?
Não admito que haja um sistema de cotas raciais, porque não admito raças diferentes. Admito etnias e já aponto um erro conceitual em toda essa discussão. Outro problema é se falar em grupos étnicos no BRASIL como se fosse possível manter uma “pureza” etnica, atentem só um instante para a nossa formação histórica: no início eram os índios, chegaram os portugueses que trouxeram os negros e depois, não satisfeitos e vendo o fracasso do sistema escravista, abriram nossos portos para os imigrantes e recebemos alemães, italianos, chineses, japoneses, húngaros, russos e toda a sorte de povos. É acho que somos um país de mestiços... logo, essa história de cotas, pra mim não faz o menor sentido.
Não admito gostas raciais porque é segregar muito mais o estado: daqui a pouco teremos, para além das absurdas cotas para estudantes de escolas públicas em vigor em muitas universidades, cotas para homossexuais, já que são parcelas da sociedade que são discriminadas, deixadas de lado e alvo de muitas provocações por parte de pessoas que não compreendem a diversidade. Serão necessárias cotas para descendentes de alemães e italianos e japoneses que não receberam seus salários e foram explorados por seus patrões, os famigerados cafeicultores dos estados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro.  Serão necessárias cotas para as mulheres, já que historicamente nós tivemos uma série de direitos adquiridos, como o voto, já no século XX.
Poupem-me desses discursos reparadores. O que é preciso ficar claro é que quando apontamos o dedo para falar das cotas raciais outros três dedos apontam de volta para nós mesmos, nos lembrando de que o existe no país é um sistema educacional precário, que embora venha ganhando políticas públicas que buscam uma qualidade, ainda está longe de atender a todos como deveria.
Não se trata de ampliar as oportunidades e sim de garantir os direitos que já são previstos nas leis. O problema de se ter que colocar um sistema de cotas no Brasil não se trata apenas da dívida histórica, de nossos erros políticos do passado, mas da nossa negligencia hoje. Por que é tão mais fácil adotar o discurso histórico? Simples: nossos mortos não se defendem!
Vamos assumir nossa parcela de culpa e sermos fiscais de nossas posturas, escolhemos os políticos, que fiscalizemos o trabalho deles! Mas entendo que assumir a culpa é bem mais trabalhoso... melhor mesmo é seguir na mesma direção do rio, achar que a aprovação das cotas foi um avanço e que é uma política de reparação... enganar-se a si mesmo é uma arte! Eu prefiro assumir a culpa e todo o ônus em dizer que sou contra o sistema de cotas porque não fiscalizo meus políticos, porque não aprendi a ter um voto consciente, porque nem sempre cumpro o meu papel de cidadã.
Aceito que não temos as mesmas oportunidades: meu filho hoje tem muito mais oportunidades do que eu na idade dele. E ele tem muito mais do que muitas crianças da mesma idade, da mesma cidade, que nasceram em berço bem menos provido, da mesma forma como terá menos oportunidades como uma criança da mesma idade, da mesma cidade nascida em berço de prata e ametistas. A diferença é como lidamos com essas oportunidades. Eu soube lidar com as minhas, com esforço e dedicação e sem achar que deveriam existir políticas que me beneficiasse.
É, pode até ser que sou radical, pode até ser que estou pautando todo um país pela minha vivência, mas não mudo minha postura de contrariedade a esse sistema vexatório de cotas aprovado pelo STF. Vergonhoso.

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